terça-feira, 3 de abril de 2012

Ver

Visão coletiva, pintura de Alex Grey.
www.alexgrey.com
Por Aymará (Esp.) / Rita Foelker

A consciência tem sido simbolizada em arte, cultura e religião, pela imagem de um olho. Também o Criador Supremo, em alguns simbolismos, é pensado como "olho que tudo vê", que se relaciona ao significado de 'onisciente' (= que tudo conhece)*.
Visão, visionário, e a popular "visagem", são termos aplicados a situações de percepção além dos sentidos materiais, no que condizem com a ideia de "tornar-se consciente de", desvelar, descobrir, no caso, algo em uma dimensão extrafísica. Passar de um estado de ignorância espiritual ao de conhecimento.
E, de fato, as visões são comumente traduzidas por imagens vistas pelo visionário. Cores, figuras, formas geométricas, lugares e pessoas são descritos. Contudo, essas imagens, embora possuam significado a ser eventualmente desvendado, não traduzem obrigatoriamente a visão real de coisas que existem do modo como são vistas.
Imagens, nesse contexto, podem não ser registros de situações reais.
Num primeiro caso, imagens também são recursos da mente para sintetizar ideias. Imagens podem ser arquétipos coletivos de origem imemorial. A mente recorre aos seus registros desta e doutras vidas para apresentar ao visionário analogias ou vestimentas para aquilo que ele vê mas não pode ser "materializado", quando o que percebe não teria forma visível, nem poderia ser traduzido nos termos com que está habituado.
Mas existe outro tipo de visão, aquelas que são frutos de criações de seres encarnados e desencarnados usando aquilo que se chama às vezes de 'matéria sutil', matéria indetectável pelos sentidos, suscetível de ser moldada por força da imaginação e da vontade. É matéria do tipo que transmite os pensamentos e que auxilia na cura de doenças, incluindo-se as físicas, podendo ser percebida pelos sentidos da alma.
Outro uso correto da palavra "ver" no sentido de ver "espiritualmente", contudo, é conhecido e muito utilizado pelas pessoas que despertaram para sua espiritualidade. São os sinais materiais que, embora possam estar muitas vezes patentes, não são percebidos pela maioria dos seres adormecidos, entorpecidos pela ação da matéria densa. Pois é preciso estar desperto para a espiritualidade para ser capaz de ver esses sinais: o balançar de uma folha, a cor de uma nuvem, o som da água podem ser mensageiros de conceitos muito profundos e sinais de fatos que estão por vir. Nesse caso, embora o que se vê seja um fato dito "material", o seu sentido só é apreendido por quem desenvolveu sua visão espiritual.
Compreendendo que há interrelações entre os aspectos materialmente visíveis e invisíveis da realidade, surge a ideia de ser capaz de "ver o invisível através do visível", em situações de profundo aprendizado pessoal e compreensão ampliada da vida.
Há pessoas que veem desse modo. Esta contudo não é a regra, embora seja uma habilidade passível de aprendizado. Ainda hoje, no mundo da matéria, os seres parecem ver ainda muito pouco, muito pouco mesmo, além de seus desejos egoístas e necessidades de satisfação pessoal.
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*N.M.: Scire, em latim, significa 'saber'.

Meu credo reverso

Por Rita Foelker

Liberdade de crença é um dos aspectos da liberdade individual, garantido também no texto constitucional do nosso país. Liberdade de crença implica liberdade de descrença, pois ter a liberdade de crer só é um direito completo se incluir a liberdade de não crer.
Dessa liberdade, advém a necessidade do respeito à crença alheia, especialmente se ela é distinta da própria. Por respeito à liberdade, então, respeito a crença dos demais seres humanos, sendo ela coincidente ou semelhante à minha, mas sobretudo quando se mostra diferente.
Aprecio igualmente o respeito às minhas crenças, bem como minha descrença nas ideias a que, ao menos por hora, minha razão e sensibilidade ainda recusam crédito.
Estive listando mentalmente as coisas em que não creio e acabei escrevendo este credo reverso:
  1. Não acredito em nada que contrarie frontalmente a razão e a lógica mais elementares. Acredito no poder da razão, porém, até certo ponto: desde que adstrito ao nosso grau de desenvolvimento intelecto-moral. Portanto sou capaz de acreditar também em explicações além da razão e do entendimento, emanadas de inteligências mais desenvolvidas que as nossas. 
  2. Não acredito que qualquer fato, por mais insignificante que pareça, tenha explicações exclusivamente materiais, sejam físicas, genéticas ou ambientais. Não acredito que o acaso possa explicar qualquer coisa ou evento em qualquer situação.
  3. Não acredito em cultura espiritual por si própria, acredito em progresso integral das criaturas. Ou seu conhecimento muda você, ou está incubado para transformações futuras... ou serve apenas para se exibir perante os outros.
  4. Não acredito em educação praticada para gente sentada em carteiras, com giz e lousa. Também não acredito em educação com gente sentada perante tecnologia de ponta, clicando botões. 
  5. Não acredito em crianças índigo, nem cristal. Todas as crianças são mestras e aprendizes.
  6. Não acredito que os tatuados vão para lugares segregados no mundo espiritual. Nossa pele física fica aqui quanto partimos. O desenvolvimento moral é que define nosso futuro após a morte do corpo. 
  7. Não acredito que a Terra seja o único planeta com vida e acredito que muitos de nós viemos de outros planetas.

Li muita coisa boa e instrutiva ao longo da vida, mas minha base e fundamento continua sendo a Filosofia Espírita, aprendida e refletida em leituras, estudos, palestras, seminários, mas sobretudo confirmada em minhas vivências. Assim, em geral, costumo aceitar a possibilidade dos fatos inexplicados e conceitos que não sejam incompatíveis com esta filosofia, mas ela me serve como medida e pedra de toque há cerca de 30 anos, nesta vida terrestre.