Texto Inédito
Por Rita Foelker
Nos anos 70, Alvin Toffler parecia saber o que estaríamos vivendo nos dias de hoje. Ele denunciava uma doença do homem contemporâneo, que ele chamou de “choque do futuro”, que se traduzia na nossa dificuldade em lidar com a mudança.
O ritmo das mudanças nos faz alterar, entre outras coisas, os significados daquilo que vivenciamos. Uma coisa que acontece aos poucos é diferente de uma notícia que chega de repente.
Por Rita Foelker
Nos anos 70, Alvin Toffler parecia saber o que estaríamos vivendo nos dias de hoje. Ele denunciava uma doença do homem contemporâneo, que ele chamou de “choque do futuro”, que se traduzia na nossa dificuldade em lidar com a mudança.
Ele disse que as duas forças que impulsionavam a mudança se chamavam aceleração e transitoriedade, uma delas decorrente da outra. Seu raciocínio partia da premissa de que aquilo que chamamos de 'coisas' são, na verdade, processos, porque de fato não existe nenhum ponto estático, nenhum estado de “não mudança”. Sequer, há um lugar à parte, de onde olhar para a mudança. Tudo é processo.
Acrescentaríamos a isso a finitude das próprias coisas – o trigo virando pizza, a pizza virando jantar, o jantar sendo devorado... E o fato de que as coisas, os próprios bens chamados de duráveis, duram cada vez menos.
Toffler afirma: “A aceleração é uma das mais importantes e menos conhecidas de todas as forças sociais”. E ela não é uma força apenas externa, ela também é uma força psicológica, alterando o modo como vivenciamos a existência.
O autor então oferece uma metáfora, convida-nos a considerar a existência um canal pelo qual a experiência flui. Este fluxo consiste de inumeráveis “situações”, que passam cada vez mais rápido. Se estivéssemos numa condição fictícia, imóveis, observando o fluxo, enxergaríamos as coisas passando cada vez mais depressa e poderíamos nos fixar cada vez menos em cada situação. Eis porque a aceleração traz ainda, em sua bagagem, a transitoriedade.
E a transitoriedade nos afeta profundamente.
E a transitoriedade nos afeta profundamente.
O ritmo das mudanças e seu efeito sobre as pessoas
O ritmo das mudanças nos faz alterar, entre outras coisas, os significados daquilo que vivenciamos. Uma coisa que acontece aos poucos é diferente de uma notícia que chega de repente.
Como não contamos com um prazo para assimilar e refletir sobre o que ocorre, uma das tendências que percebo é tornarmo-nos superficiais, porque a vida se tornou complexa demais para que possamos abrangê-la em todas as suas consequências e desdobramentos.
Uma reação a isto parecem ser movimentos como slow food, publicações como a revista Vida Simples, a atração pela vida no campo, o sucesso das pousadas que se multiplicam em zonas rurais. Afinal, parece que a segurança de coisas que obedecem a um ritmo mais lento, dando tempo para nossas adaptações e a respostas pertinentes, é um ingrediente que nos faz falta.
Existem, contudo, outras fontes de segurança, naquilo que não está condicionado pelo passar do tempo. Refiro-me à amizade verdadeira, aos valores da família e da vizinhança, chegando aos valores espirituais perenes – sintetizados na lei de Justiça, Amor e Caridade. Quando, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec optou por tratar dos ensinos do Cristo que tinham caráter imorredouro, talvez ele não soubesse o quanto esses valores seriam fundamentais para o equilíbrio do homem contemporâneo, para sua sanidade mental e para a, muitas vezes, complexa tarefa das escolhas morais que o mundo contemporâneo nos impõe.
Luli Radfahrer, PhD em comunicação digital, escreveu em artigo para a Folha.com, consoante ao que foi dito até aqui: “Novas situações costumam demandar novas palavras para descrevê-las. Quando essas palavras ainda não estão disponíveis, o único jeito é recorrer a velhos termos conhecidos, nem sempre adequados.” E observa como hoje, nas redes sociais, chamamos de “amigos” pessoas que não compartilham nossa intimidade, não convivem conosco, pouco sabem de nós.
Ao fazer isso, ele entende que estamos abrindo a nossa intimidade para os desconhecidos. Mas entendo que estamos fazendo mais: estamos, talvez, ressignificando a amizade para tempos de aceleração e transitoriedade, estamos multiplicando aquilo que chamamos de amigos e tendo menos tempo para cada um deles – assim como para nós mesmos.
Já estamos vivendo numa realidade social onde a competição atinge níveis insanos, onde cada pessoa parece votada ao esforço de ser melhor que outro e obter mais que o outro. Num impulso de franco individualismo, estabelecem-se metas competitivas até para crianças, desde pequenas, muito embora, não importa o quanto consigamos conquistar na vida, nunca parece ser suficiente, se não temos uma estrutura interna de convicções espirituais sólidas e valores correspondentes.
Por isso é que precisamos de referenciais não transitórios. É por isso que os valores eternos e as virtudes morais, que sempre foram tão importantes, adquirem uma relevância ainda maior em tempos de comunicação digital tão múltipla e facilitada.
Uma reação a isto parecem ser movimentos como slow food, publicações como a revista Vida Simples, a atração pela vida no campo, o sucesso das pousadas que se multiplicam em zonas rurais. Afinal, parece que a segurança de coisas que obedecem a um ritmo mais lento, dando tempo para nossas adaptações e a respostas pertinentes, é um ingrediente que nos faz falta.
Existem, contudo, outras fontes de segurança, naquilo que não está condicionado pelo passar do tempo. Refiro-me à amizade verdadeira, aos valores da família e da vizinhança, chegando aos valores espirituais perenes – sintetizados na lei de Justiça, Amor e Caridade. Quando, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, Allan Kardec optou por tratar dos ensinos do Cristo que tinham caráter imorredouro, talvez ele não soubesse o quanto esses valores seriam fundamentais para o equilíbrio do homem contemporâneo, para sua sanidade mental e para a, muitas vezes, complexa tarefa das escolhas morais que o mundo contemporâneo nos impõe.
Luli Radfahrer, PhD em comunicação digital, escreveu em artigo para a Folha.com, consoante ao que foi dito até aqui: “Novas situações costumam demandar novas palavras para descrevê-las. Quando essas palavras ainda não estão disponíveis, o único jeito é recorrer a velhos termos conhecidos, nem sempre adequados.” E observa como hoje, nas redes sociais, chamamos de “amigos” pessoas que não compartilham nossa intimidade, não convivem conosco, pouco sabem de nós.
Ao fazer isso, ele entende que estamos abrindo a nossa intimidade para os desconhecidos. Mas entendo que estamos fazendo mais: estamos, talvez, ressignificando a amizade para tempos de aceleração e transitoriedade, estamos multiplicando aquilo que chamamos de amigos e tendo menos tempo para cada um deles – assim como para nós mesmos.
Já estamos vivendo numa realidade social onde a competição atinge níveis insanos, onde cada pessoa parece votada ao esforço de ser melhor que outro e obter mais que o outro. Num impulso de franco individualismo, estabelecem-se metas competitivas até para crianças, desde pequenas, muito embora, não importa o quanto consigamos conquistar na vida, nunca parece ser suficiente, se não temos uma estrutura interna de convicções espirituais sólidas e valores correspondentes.
Por isso é que precisamos de referenciais não transitórios. É por isso que os valores eternos e as virtudes morais, que sempre foram tão importantes, adquirem uma relevância ainda maior em tempos de comunicação digital tão múltipla e facilitada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário