quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

A ética e a medicina dos espíritos*

As curas mediúnicas precisam respeitar certos princípios

Por Rita Foelker

A medicina terrena é uma ciência admirável, porém limitada por seus meios, instrumentos e por sua ontologia, isto é, o conjunto de entidades que ela admite que existam. Isso limita sua possibilidade de atuar eficazmente numa série de situações onde as causas estão entre as entidades não admitidas, onde seus instrumentos não podem detectar algumas particularidades e onde a química, a cirurgia e outros procedimentos materiais não alcançam resultados. São situações em que se lida com causas emocionais, “vibracionais”, ou então com enfermidades cujas origens remontam a outras existências e/ou se devem à influência de espíritos, só pra citar alguns exemplos.
Nesse “gap”, aberto por sua incapacidade de explicar certos sintomas e apontar-lhes a cura, encontraremos as terapias alternativas e aquela que podemos chamar de “medicina dos espíritos”, que procedem de maneiras diversas: secundando a ação magnética dos médiuns, no momento do passe, receitando ou mesmo fazendo cirurgias, com ou sem cortes.
A situação do médium curador é bastante distinta do médico, no que diz respeito à ética. Se o conhecimento da doença que acomete o paciente, assim como a solução apontada para o caso, não provém do médium, mas do espírito que se manifesta por seu intermédio, não é ético que ele estabeleça um preço para o tratamento ou, até mesmo, venha a lucrar pelo uso de uma faculdade que possui tão somente para tornar possível ao verdadeiro médico realizar a cura – se ela puder ser obtida, dependendo do caso. Mas não é só isso...

O aspecto ético das curas mediúnicas

Do ponto de vista extrafísico, pode-se considerar a doença física apenas como uma manifestação sensível de uma condição invisível, não percebida pela pessoa em sua origem espiritual, psicológica ou emocional, algumas vezes desencadeada por um agente externo que apenas expõe o que estava oculto. Samuel Hahnemann (1775-1843), criador da homeopatia, chamou de miasmas a estes focos que predispõem a doenças.
Em geral, as pessoas que buscam cura por algum meio, incluindo-se aqueles que médiuns curadores propiciam, encontram-se emocionalmente fragilizadas, algumas vezes, desesperadas até, e com o discernimento comprometido pela condição vivenciada. Elas podem estar dispostas a pagar qualquer preço, submeterem-se a qualquer procedimento, por uma chance de alívio ou de solução para o problema que enfrentam. Contudo, a lição do Mestre Nazareno é explícita, e lemos em O evangelho segundo o espiritismo: “‘Dai de graça o que de graça recebestes’, disse Jesus aos seus discípulos, e por esse preceito estabelece que não se deve cobrar aquilo por que nada se pagou. (...) Esse dom lhe fora dado gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e para ajudar a propagação da fé. Ele lhes diz que não o transformem em objeto de comércio ou de especulação, nem em meio de vida”.
A par da questão monetária, o médium nesses casos encontra-se numa posição bastante delicada, da qual precisa estar cônscio, para não cometer deslizes:
– perante os espíritos, porque a cura não depende de si próprio, mas deles, em sintonia com as leis divinas;
– perante os encarnados, porque não há garantia de cura, visto que a possibilidade de melhora está relacionada à necessidade e ao merecimento de cada pessoa, acrescida de seu estado atual, da sua receptividade ao tratamento, entre muitos fatores.
Fica assim notório que o resultado depende menos do médium curador e, mais, do cumprimento das leis de Deus e da situação específica do enfermo, incluindo sua fé, sua vontade de modificar aqueles “hábitos que adoecem”, seu estado de prontidão para a nova condição de vida e a nova fase de aprendizados, uma vez cessada a convivência com o problema. Nada disso está sob o controle do medianeiro.
Por isso, a humildade, o sincero intuito de servir e o desapego quanto aos resultados, são itens indispensáveis ao bom exercício desta faculdade mediúnica tão peculiar.
Hoje em dia, nessa cultura das pílulas que visam cessar apenas com sintomas, contendo substâncias que nos ajudam a conviver com as nossas misérias e doenças, em lugar de tratá-las, é importante que haja os tratamentos ditos “alternativos”, bem como o acesso às curas mediúnicas. Embora possamos necessitar de um analgésico ou antialérgico, às vezes, trata-se de medida temporária, só para nos sentirmos melhor e encarar o maior desafio, que é ter uma vida mais saudável, mais sincera, mais intensa e mais afetuosa – mais saudável!
A mediunidade curativa pode ser muito eficiente e colaborar para a cura ou melhoria da qualidade de vida de muitas pessoas. Contudo, ela não se presta à obtenção de ganhos pessoais de nenhum tipo, incluindo aqueles que alimentam as vaidades humanas.

_____
* Este texto foi publicado no jornal Leitura Espírita, Edição 09 - Dezembro de 2012.


Nenhum comentário:

Postar um comentário