Por
Rita Foelker
A
medicina terrena é uma ciência admirável, porém limitada por seus meios,
instrumentos e por sua ontologia, isto é, o conjunto de entidades que ela
admite que existam. Isso limita sua possibilidade de atuar eficazmente numa
série de situações onde as causas estão entre as entidades não admitidas, onde
seus instrumentos não podem detectar algumas particularidades e onde a química,
a cirurgia e outros procedimentos materiais não alcançam resultados. São
situações em que se lida com causas emocionais, “vibracionais”, ou então com
enfermidades cujas origens remontam a outras existências e/ou se devem à
influência de espíritos, só pra citar alguns exemplos.
Nesse
“gap”, aberto por sua incapacidade de explicar certos sintomas e apontar-lhes a
cura, encontraremos as terapias alternativas e aquela que podemos chamar de
“medicina dos espíritos”, que procedem de maneiras diversas: secundando a ação
magnética dos médiuns, no momento do passe, receitando ou mesmo fazendo
cirurgias, com ou sem cortes.
A
situação do médium curador é bastante distinta do médico, no que diz respeito à
ética. Se o conhecimento da doença
que acomete o paciente, assim como a solução apontada para o caso, não provém
do médium, mas do espírito que se manifesta por seu intermédio, não é ético que
ele estabeleça um preço para o tratamento ou, até mesmo, venha a lucrar pelo
uso de uma faculdade que possui tão somente para tornar possível ao verdadeiro
médico realizar a cura – se ela puder ser obtida, dependendo do caso. Mas não é
só isso...
O aspecto ético das curas mediúnicas
Do
ponto de vista extrafísico, pode-se considerar a doença física apenas como uma
manifestação sensível de uma condição invisível, não percebida pela pessoa em
sua origem espiritual, psicológica ou emocional, algumas vezes desencadeada por
um agente externo que apenas expõe o que estava oculto. Samuel Hahnemann
(1775-1843), criador da homeopatia, chamou de miasmas a estes focos que predispõem a doenças.
Em
geral, as pessoas que buscam cura por algum meio, incluindo-se aqueles que médiuns
curadores propiciam, encontram-se emocionalmente fragilizadas, algumas vezes,
desesperadas até, e com o discernimento comprometido pela condição vivenciada.
Elas podem estar dispostas a pagar qualquer preço, submeterem-se a qualquer
procedimento, por uma chance de alívio ou de solução para o problema que
enfrentam. Contudo, a lição do Mestre Nazareno é explícita, e lemos em O evangelho segundo o espiritismo: “‘Dai
de graça o que de graça recebestes’, disse Jesus aos seus discípulos, e por
esse preceito estabelece que não se deve cobrar aquilo por que nada se pagou. (...)
Esse dom lhe fora dado gratuitamente por Deus, para alívio dos que sofrem e
para ajudar a propagação da fé. Ele lhes diz que não o transformem em objeto de
comércio ou de especulação, nem em meio de vida”.
A
par da questão monetária, o médium nesses casos encontra-se numa posição
bastante delicada, da qual precisa estar cônscio, para não cometer deslizes:
–
perante os espíritos, porque a cura não depende de si próprio, mas deles, em
sintonia com as leis divinas;
–
perante os encarnados, porque não há garantia de cura, visto que a
possibilidade de melhora está relacionada à necessidade e ao merecimento de
cada pessoa, acrescida de seu estado atual, da sua receptividade ao tratamento,
entre muitos fatores.
Fica
assim notório que o resultado depende menos do médium curador e, mais, do
cumprimento das leis de Deus e da situação específica do enfermo, incluindo sua
fé, sua vontade de modificar aqueles “hábitos que adoecem”, seu estado de
prontidão para a nova condição de vida e a nova fase de aprendizados, uma vez
cessada a convivência com o problema. Nada disso está sob o controle do medianeiro.
Por
isso, a humildade, o sincero intuito de servir e o desapego quanto aos
resultados, são itens indispensáveis ao bom exercício desta faculdade mediúnica
tão peculiar.
Hoje
em dia, nessa cultura das pílulas que visam cessar apenas com sintomas, contendo
substâncias que nos ajudam a conviver com as nossas misérias e doenças, em
lugar de tratá-las, é importante que haja os tratamentos ditos “alternativos”, bem
como o acesso às curas mediúnicas. Embora possamos necessitar de um analgésico
ou antialérgico, às vezes, trata-se de medida temporária, só para nos sentirmos
melhor e encarar o maior desafio, que é ter uma vida mais saudável, mais
sincera, mais intensa e mais afetuosa – mais saudável!
A
mediunidade curativa pode ser muito eficiente e colaborar para a cura ou
melhoria da qualidade de vida de muitas pessoas. Contudo, ela não se presta à
obtenção de ganhos pessoais de nenhum tipo, incluindo aqueles que alimentam as
vaidades humanas.
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* Este texto foi publicado no jornal Leitura Espírita, Edição 09 - Dezembro de 2012.
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