Por Rita Foelker
O Espírito em evolução é a consciência aprendente. O aprendizado promove progresso intelectual que precede o moral.
Os seres mais evoluídos intelectual e moralmente fazem uma ciência mais aperfeiçoada que os mais atrasados, porque refinaram seus instrumentos perceptivos e cognitivos, o que lhes permitiu uma compreensão mais completa e aprofundada dos mecanismos da Natureza e da natureza dos seres. Eles efetivam sua própria ciência, a ciência dos Espíritos, denominação que Paulo Henrique de Figueiredo adotou, sobre a qual conversamos, e que eu também utilizarei.
Quando estes seres mais adiantados trazem seu conhecimento aos humanos encarnados na Terra, eles não estão fazendo ciência por nós, mas sim fornecendo conceitos que podemos utilizar na elaboração da ciência espírita (a ciência dos encarnados que trata das relações entre os mundos visível e invisível), obedecendo ao mesmo princípio da solidariedade que mencionamos no post O papel da solidariedade na ciência, ou “nós” é o plural de nó.
Assim, verificamos dois tipos de solidariedade: a solidariedade horizontal, surgida da colaboração entre seres de uma mesma categoria evolutiva no intuito de aprender e formular as bases da ciência espírita; e a solidariedade vertical, originária de planos superiores visando alavancar o progresso dos seres mais atrasados porém sinceros na sua busca pelo saber e a melhoria individual e social.
O que os Espíritos nos possibilitam, com sua revelação de princípios e leis, são as condições necessárias para que realizemos aquilo que Thomas Kuhn, em sua tese sobre o progresso científico, chama de mudança de gestalt, (i. e., mudanças na visão global do mundo), mudanças que segundo ele nascem da combinação de vários fatores que extrapolam a esfera meramente cognitiva, incluindo crenças e valores.
Ou seja, os vislumbres da ciência dos Espíritos nos permitem enxergar os caminhos da ciência espírita. Os Espíritos nos oferecem uma nova forma de "ver o mundo", ao nos oferecer um ponto de vista e oportunidade de diálogo com eles. Este diálogo progressivo conosco depende do que já caminhamos intelectualmente, pois eles nos ajudam conforme evoluímos na nossa compreensão.
Uma objeção pertinente seria a de que a ciência espírita não passe de mais uma proposta de paradigma concorrente com outras, tidas como equivalentes. Um olhar puramente terreno poderia crer na correção deste pensamento. Contudo, aplicando as mesmas premissas (1-4, que expusemos no post Validade dos relatos mediúnicos) ao problema presente, perceberemos que onde Kuhn não via um caminho para uma verdade única, vemos a tendência evolutiva dos Espíritos que os dirige ao bem e à verdade das leis universais. Vemos nos ensinos dos Espíritos adiantados princípios de uma ciência mais completa e perfeita que aquela que praticamos, uma meta para onde direcionar nossos esforços.
A ciência espírita não compete com outras ciências por ter um objeto de pesquisa novo: as relações com o mundo espiritual. Seu escopo é observar fenômenos, reconhecer médiuns, aperfeiçoar a comunicação interplanos, dialogar e observar a que ordem pertencem os Espíritos comunicantes e comparar os conceitos dos Espíritos superiores com o conhecimento terreno atual.
Além disso, quando abrimos diálogo com os Espíritos, abrimos uma base de conhecimento única que esclarece fatos que Kuhn não pôde abranger. Um conhecimento que transforma as outras ciências naturais, a economia, sociologia, psicologia etc. Então, não há concorrência, há autossuperação de cada ramo científico pela integração dos conhecimentos expressos na ciência espírita.
Onde Kuhn viu a competição entre teorias e paradigmas, numa perspectiva espírita, vemos exercícios de Espíritos pouco adiantados que disputam prestígio e poder pessoal mediante o conhecimento que adquirem ou produzem. Esta é, contudo, uma situação passageira, resultado de sua forma restrita de entender a vida.
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* Este texto foi postado originalmente no blog "Entre a Serpente e a Estrela", em 17/05/2009.
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