Por Rita Foelker – Para o site da FEAL
Essa ideia de pessoas com defeitos tem alguns defeitos. Um
deles está em considerar que Deus criou coisas defeituosas ou que podem
apresentar defeito. Outro defeito é tratar-se, com nosso estrabismo ou miopia
habitual, de um incentivo a enxergarmos e apontarmos defeitos nos outros. Em
geral, nosso ego adere a esse tipo de atitude muito facilmente, bem como a tudo
o que o engrandeça e destaque.
Mas vamos, apenas e exclusivamente neste texto, chamar de
defeitos aquilo que nos incomoda ou desagrada em outras pessoas, razão pela
qual os desaprovamos. Isso é bem genérico. E não é difícil... Vamos lá! Nesse
sentido, podemos dizer que todo mundo tem "defeitos".
Olhando bem, logo notamos que alguns "defeitos" e
"pessoas" são mais difíceis pra nós, pois nos incomodam mais. No
entanto, também notamos que está cheio de gente com defeitos que não nos
afetam! A questão, portanto, não é o
defeito do outro, mas, sim, como e por que aquilo nos afeta.
Comecei a pensar sobre isso. Fui procurar me entender, a
partir dessas minhas reações, tentar me conhecer melhor. Afinal, acredito em evoluir pra me tornar um ser melhor. Tanto eu, quanto os
outros. E acredito no autoconhecimento como um caminho importante na evolução.
Notei que certos “defeitos” me afetavam quando surgiam em
pessoas próximas a mim, em relação às quais nutria certas expectativas. Tais
expectativas costumam ter fundamento? Em alguns casos. Se certa mãe que devia
cuidar do filho pequeno não consegue suprir as necessidades dele, poderíamos
dizer que o incômodo tem uma base, desde que há uma expectativa legítima de que
mães acalentem e cuidem de seus filhos. Mas é preciso considerar que não existe
apenas isso, pois há também a condição material, mental e emocional da mãe, de
atender a essas necessidades ou não, e pode haver um motivo específico que explique
seu comportamento. Seres humanos têm desafios complexos e se complicam
emocionalmente, iludem-se com prioridades fictícias, adoecem, perdem empregos...
Pensando assim, também passei a focar nas virtudes e
qualidades que antes estavam ocultas na pessoa, sob aquele pretenso “defeito”
que até então me incomodava tanto. E vi que lá estava aquela criatura,
exercitando essas qualidades e se desenvolvendo, segundo sua possibilidade e
compreensão da vida.
Assim, comecei a ter um olhar mais positivo, que os budistas
talvez chamassem de “compassivo”. Isso não implica fechar os olhos, mas olhar
de outra maneira. Isso também não faz nossa dificuldade passar e tudo ficar
instantaneamente maravilhoso. Mas melhora bem a possibilidade de compreensão e
convivência.
Não vou dizer aqui que costumamos enxergar nos outros aquilo
que não conseguimos ver em nós mesmos, porque é um fato que já comprovei e uma
abordagem já muito batida. Mas até nesse sentido, enxergar no outro o que
precisamos descobrir em nós é uma sabedoria das Leis Divinas e uma providência
educativa.
A inteligência emocional, a percepção de como estamos nos
sentindo, é algo muito valioso, para lidar com tais questões de maneira mais sensata
possível. Como observa Eckhart Tolle em O poder do silêncio (Ed. Sextante): “Reclamar
e reagir são as formas preferidas da mente para fortalecer o ego. O eu
autocentrado precisa do conflito para fortalecer sua identidade. Ao lutar
contra algo ou alguém, ele demonstra pra si mesmo que ‘isto sou eu’ e ‘aquilo
não sou eu’. É comum que países procurem fortalecer sua sensação de identidade
coletiva colocando-se em oposição aos seus inimigos.” Pode ser, então, que atribuir
defeitos seja mais um modo de nos afirmarmos – e simplesmente isto! Os
defeitos, então, estão na nossa visão egocentrada e não na pessoa, considerada
como essencialmente uma criatura divina em vias de progresso espiritual,
seguindo sua trajetória e fazendo uso de seu livre-arbítrio.
Além do mais, o conceito de “defeito” que adotamos para este
texto, pode perfeitamente aplicar-se a nós mesmos. Nossas atitudes, hábitos e
idiossincrasias podem andar desagradando pessoas por aí. Algumas ou muitas.
Então, é melhor evitar radicalismos e expandir a compreensão. Reclamações,
ações extremadas às vezes são infelizes, tanto em si mesmas quando nos
resultados que ocasionam. Diz Emmanuel em Seara dos médiuns (FEB), “olvidemos
os defeitos do próximo, na certeza de que todos nos encontramos sob o malho das
horas, na bigorna da experiência.”
_____
* Texto publicado no site da FEAL (Fundação Espírita André Luiz), em 28/02/13
_____
* Texto publicado no site da FEAL (Fundação Espírita André Luiz), em 28/02/13
Nenhum comentário:
Postar um comentário