Uma vida mais espiritualizada
pode prevenir possíveis transtornos mentais associados à vida moderna
Por Rita Foelker
O texto não é recente, foi postado em 2009, no blog “Beleza Sustentável”, reproduzido em outros blogs, e seu título é “Cirurgia de
lipoaspiração?”. Escrita pelo músico e compositor Herbert Vianna, a postagem
menciona o excesso de preocupações estéticas dos jovens de nosso tempo, e
apresenta a pergunta: “ninguém está percebendo que toda essa busca insana pela
estética ideal é muito menos lipo e
muito mais piração?”
Passados quase quatro anos, a situação mudou pouco, o que
não impede que possa ser analisada sob um novo ângulo.
Recentemente, o psicólogo Frederico Eckschmidt colaborou na
edição 10 do Leitura Espírita, de
Fevereiro de 2013, com um texto onde observa os efeitos da ausência de uma
compreensão espiritual da existência no aumento da incidência de doenças
mentais, verificado em estatísticas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Enquanto isso, a palavra escolhida por Vianna para referir-se ao verdadeiro
culto à imagem que temos desenvolvido é reveladora: “piração”. Mas qual seria a
cura ou, então, a profilaxia para esse tipo de insanidade?
Como preencher o
vazio interno
“Hoje, Deus é a
auto-imagem. Religião é dieta. Fé, só na estética. Ritual é malhação. Amor é
cafona, sinceridade é careta, pudor é ridículo, sentimento é bobagem. Gordura é
pecado mortal. Ruga é contravenção. Roubar pode, envelhecer não. Estria é caso
de polícia. Celulite é falta de educação.” – define o cantor. O caso parece
mesmo ser de uma “devoção religiosa” pela imagem, o que nos remete ao texto do
Fred, no qual ele afirma que, além dos fatores neurológicos e psicológicos e do
impacto de viver em áreas urbanas para a saúde mental, devido ao aumento de
percepção da desigualdade social, isolamento e dissolução de relações, a
ausência de espiritualidade pode também ser causa de doenças, notando-se ainda
que, segundo ele escreve, “a vida em sociedades industriais e tecnológicas
dificulta essa observação e/ou ocupação dos indivíduos com as práticas
espirituais”.
Enquanto isso, em Kundalini:
o mestre e o discípulo (Ed. Heresis), Kiu Eckstein nos deixa uma frase de
seu mestre que bem resume isto: “A melhor de todas as terapias é voltar-se
decididamente para um estilo de vida espiritual”.
De minha parte, estou cada vez mais convencida de que uma
vida espiritual (ou espiritualizada) é sinônima de uma vida simples e de uma
vida confiante. Uma vida onde se age com consciência, valorizando o que realmente
importa, com segurança acerca das prioridades e sem abusos.
Entendo que simplicidade não tem a
ver com falta, nem com privação. Não é
usar a coisa mais barata que existe, apenas para ser contra os hábitos
burgueses. Ou ficar andrajoso, “molambento”. Entendo que há simplicidade em
usar aquilo que nos faz bem, de acordo com nossas possibilidades.
Se eu tiver dinheiro e gostar de
algo caro, para comer, vestir ou dirigir, creio ser possível manter-se simples e usufruir esse “algo” caro.
O ponto-chave da questão é fazer algo pra se sentir bem consigo mesmo e, não,
pra ostentar, pra manter uma aparência ou imagem. Também não é crime nem pecado
fazer plástica ou outro procedimento indicado para nós. A questão é agir
segundo a própria consciência e, não, para preencher expectativas sociais. Há
pessoas que se afundam em dívidas apenas para aparentar um nível de vida que
não é o seu, para se fazerem magras e sem rugas, apesar de suas enormes
frustrações e sofrimentos internos. E isso nada mais é que criar dificuldades
para si mesmas, enovelar-se em situações desagradáveis, em lugar de caminhar
para um estado mais pleno de felicidade e satisfação.
Da mesma maneira, o mais "em
conta" ainda pode ser bem bacana e não precisa ser depreciado.
Ocorre que, para perceber isso, precisamos
assentar bem os pés no chão e, para tanto, uma perspectiva espiritual da
existência ajuda muito. Perceber quem e o que realmente importa mais pra nós. E
continuar olhando para essas pessoas importantes, essas ideias e esses valores,
tentando praticá-los. Mas para estarmos bem, é preciso ainda confiar na origem
das ideias e valores que abraçamos, para fazê-lo com a necessária segurança que
contribui para a paz íntima.
Reconhecemos, desse modo, a legitimidade do desejo ao qual
Herbert Vianna se refere ao dizer que “Ok, eu também quero me sentir bem, quero
caber nas roupas, quero ficar legal, quero caminhar, correr, viver muito, ter
uma aparência legal”. Afinal, nada disso é negação de uma vida espiritualizada,
onde existem simplicidade e confiança profunda na dimensão invisível da vida.
Para saber mais:
- Frederico Eckschimidt, Espiritualidade,
doenças mentais e a evolução do cérebro humano. Jornal Leitura Espírita,
Edição 10, fevereiro de 2013, página 10.
- Herbert Vianna, Cirurgia
de lipoaspiração? Disponível em http://migre.me/d0JqT
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* Este texto foi publicado originalmente no jornal Leitura Espírita, Edição 11, de Março de 2013.
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