Há quem pense que aqui retornamos em
razão de nossos erros cometidos em vidas passadas
A
reencarnação nos proporciona tempo na Terra, um corpo físico e um meio onde nos
desenvolvemos de muitas maneiras e podemos atuar. A chegada de um bebê é
geralmente celebrada pelas famílias, com alegria e esperança.
Ao
reencarnarmos, somos introduzidos num lugar diferente, não sem problemas e
desafios, mas também repleto de belezas e possibilidades. Mas há quem pense e
diga que reencarnação é pena, castigo, e que aqui retornamos em razão de nossos
erros do passado, para sofrer pelo que fizemos outras pessoas sofrerem.
Não
é esta a ideia que se depreende dos textos espíritas fundamentais, aqueles que
formam a base da compreensão espírita das coisas, deixados por Kardec para
nosso estudo e esclarecimento.
Evoluir com liberdade
“A
reencarnação é a volta da alma ou espírito à vida corpórea, mas em outro corpo
especialmente formado para ele e que nada tem de comum com o antigo”. Eis o que
lemos em O evangelho segundo o
espiritismo. Se a reencarnação é volta, significa que é preciso já termos
encarnado uma vez, para poder reencarnar. Por que, então, encarnamos pela
primeira vez, se ainda não cometemos nenhuma falta para sermos punidos?
A
resposta vem de O livro dos espíritos,
tratando do “Objetivo da encarnação”: “Deus lhes impõe a encarnação com o fim
de fazê-los chegar à perfeição.” Dizer que a encarnação é algo imposto, significa
dizer que não é uma alternativa ou resultado de nossa conduta, mas que todos os
espíritos passam por ela obrigatoriamente. E em O evangelho segundo o espiritismo, Kardec refaz a pergunta: “É um
castigo a encarnação e somente os espíritos culpados estão sujeitos a
sofrê-la?” A resposta do espírito São Luís não deixa dúvida: “A passagem dos espíritos
pela vida corporal é necessária para que eles possam cumprir, por meio de uma
ação material, os desígnios cuja execução Deus lhes confia. É-lhes necessária,
a bem deles, visto que a atividade que são obrigados a exercer lhes auxilia o
desenvolvimento da inteligência. Sendo soberanamente justo, Deus tem de
distribuir tudo igualmente por todos os seus filhos; assim é que estabeleceu
para todos o mesmo ponto de partida, a mesma aptidão, as mesmas obrigações a
cumprir e a mesma liberdade de proceder. Qualquer privilégio seria uma
preferência, uma injustiça.”
Obedecendo
à Lei de Justiça, todos recebemos as mesmas oportunidades de desenvolvimento da
inteligência, por meio da encarnação, colaborando também com a obra da Criação.
Mas trata-se também de oportunidade de exercício da liberdade. Pois continua
São Luís. “A encarnação para todos os espíritos, é... uma tarefa que Deus lhes
impõe, quando iniciam a vida, como primeira experiência do uso que farão do
livre-arbítrio.” E logo, passamos a experimentar as consequências de nossa
liberdade de escolha, adiantando ou atrasando nossa caminhada evolutiva.
É
nesse contexto que aparece, na própria resposta de São Luís, uma referência a
“castigo”, ao afirmar que “os [espíritos] que usam mal da liberdade que Deus
lhes concede retardam a sua marcha e, tal seja a obstinação que demonstrem,
podem prolongar indefinidamente a necessidade da reencarnação e é quando se
torna um castigo.” Fica então claro que é a repetição indefinida das lições, a
demora no aprendizado, que acaba constituindo uma espécie de punição mas,
sempre, resultante das próprias escolhas e ações do espírito em questão, sem
intervenção de um Deus punitivo.
O
comentário de Kardec reforça esta compreensão: “Para o espírito do selvagem,
que está apenas no início da vida espiritual, a encarnação é um meio de ele
desenvolver a sua inteligência; contudo, para o homem esclarecido, em quem o
senso moral se acha largamente desenvolvido e que é obrigado a percorrer de
novo as etapas de uma vida corpórea cheia de angústias, quando já poderia ter
chegado ao fim, é um castigo, pela necessidade em que se vê de prolongar sua
permanência em mundos inferiores e desgraçados. Aquele que, ao contrário, trabalha
ativamente pelo seu progresso moral, além de abreviar o tempo da encarnação
material, pode também transpor de uma só vez os degraus intermédios que o
separam dos mundos superiores.”
Não existem exceções
Mas
mesmo aqueles espíritos que seguiram desde o início o caminho do Bem necessitam
reencarnar? Kardec fez esta pergunta aos espíritos, que responderam que “todos
são criados simples e ignorantes e se instruem nas lutas e tribulações da vida
corporal. Deus, que é justo, não podia fazer felizes a uns, sem fadigas e
trabalhos, conseguintemente sem mérito.”
Há outro propósito ainda, na
reencarnação: “o de pôr o espírito em condições de suportar a parte que lhe
toca na obra da criação. Para executá-la é que, em cada mundo, toma o espírito
um instrumento, de harmonia com a matéria essencial desse mundo, a fim de aí
cumprir, daquele ponto de vista, as ordens de Deus. É assim que, concorrendo
para a obra geral, ele próprio se adianta.”
Fica
então a pergunta sobre as razões de nosso sofrimento nesta vida e a razão pela
qual algumas pessoas parecem destinadas a sofrerem mais que outras. Os
espíritos disseram a Kardec que sofremos muitas vezes pelas nossas imperfeições,
não pelo que fizemos noutro momento e lugar. “Quanto menos imperfeições, tanto
menos tormentos. Aquele que não é invejoso, nem ciumento, nem avaro, nem
ambicioso, não sofrerá as torturas que se originam desses defeitos.”
O
que se verifica, então, que a causa do sofrimento está em nós mesmos, em nosso
modo de encarar a vida e os desafios, de nos relacionarmos com as pessoas e com
a Natureza.
Reconstruindo relacionamentos
De
fato, a vida é uma dinâmica, que não leva em conta apenas o que nos acontece,
mas como nós reagimos àquilo que nos acontece, e que não pode ser traduzida num
esquema simplista de prêmio e castigo.
A
reencarnação é um processo que envolve muitos fatores, muitas decisões, muitas
emoções e sentimentos que se modificam. O tempo que nos é dado sobre a Terra
não é um presente pronto para usar, ele é mais um quebra-cabeça, um jogo de montar.
Temos a sensação de que ele às vezes sobra, às vezes parece faltar, mas o fato
é que podemos aprender a utilizá-lo tornando nossa vida mais satisfatória ou
mais difícil.
Reencarnamos
para progredir intelectual e moralmente, desenvolver amor, compaixão,
solidariedade, tolerância, paz interior, paciência e outras virtudes. E para
cumprir uma tarefa no Universo.
Antes
de reencarnarmos, refletimos e, com a ajuda de espíritos mais sábios, traçamos
um plano, escolhemos o que queremos desenvolver dentre as nossas muitas
necessidades, o que pressupõe um cenário específico. Um meio social. Uma
condição física particular. Por isso, algumas pessoas nascem com severas
limitações materiais, mas que fazem parte do seu programa evolutivo, da sua
proposta de se melhorarem em determinados aspectos. No entanto, a par das
condições físicas, financeiras e do meio social desafiador, cabe a cada um de
nós, com seu livre-arbítrio, escolher como vai lidar com as situações que
encontra, com fé e esperança ou com desânimo, com aceitação ou ressentimento,
em paz consigo e com a vida ou, então, em permanente conflito, lembrando que é
nas situações-limite, nas dificuldades, que somos incentivados a praticar tudo
aquilo que aprendemos e construímos como qualidades de nosso Ser imortal.
Nas
muitas reencarnações, reconstruímos relacionamentos que, durante séculos, foram
vivenciados em ciclos de vingança, entre ódios e ressentimentos. Não se trata
de uma mecânica da lei, simplesmente, mas de um desejo e uma necessidade dos
espíritos envolvidos. Ao renascer, somos, então, presenteados com o
esquecimento do passado, que facilita a reaproximação de desafetos de outras
existências, sem tantas prevenções e reservas, numa nova chance de desenvolver
bons sentimentos recíprocos, apagando mágoas. Essas pessoas se encontram hoje
próximas de nós, entre nossos amigos, colegas e familiares. E cada vez mais,
para viver bem com o próximo, num mundo que chega mais perto de nós a cada dia,
graças à tecnologia, vai se fazendo necessário compreender melhor o todo da
vida, não apenas nosso pedacinho, nossa tarefa, nosso quadrado.
Então
vemos cada vez mais pessoas buscando um sentido para que o viver seja mais que
nascer, crescer, estudar, trabalhar, procriar e morrer, que se expande nas
palavras de Kardec: “Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sempre, tal é a
lei”.
Pode
parecer que estamos nos esquecendo da chamada “lei de causa e efeito”. Mas
ainda existem as consequências naturais de nossos atos e condutas, o que não
existe mais é a ideia de que a causa seria um ato infeliz cometido numa vida e,
o efeito, a punição posterior.
Segundo
o músico e compositor Herbie Hancock, seguidor de uma doutrina
reencarnacionista, o budismo, “o maior objetivo de um ser humano é poder
entender o que está acontecendo, se é banquete ou fome, se são coisas
agradáveis ou desagradáveis, pegar essas coisas e, de alguma forma,
transformá-las em algo de valor.” Um exemplo disso pode ser encontrado com a
terapeuta ocupacional estadunidense Christina Stephens, que sofreu uma amputação
da perna e construiu para si mesma uma prótese com blocos de Lego.
No final de sua existência
terrena, a alma se autoavalia, percebendo o que aprendeu e superou e o que
ainda falta desenvolver. E então, noutro tempo, noutro projeto, irá recomeçar
em nova encarnação.
Para
saber mais:
- Americana constrói uma prótese de perna feita de Lego para si mesma.
Por Carolina Vilaverde para o blog da Revista Super Interessante, 02/07/13. http://abr.io/IuYL
Reencarnação e comprovação
Desde
o século 19 há importantes pesquisas sobre reencarnação entre estudiosos que
não são somente espíritas. Há importantes resultados que a confirmam. Em 1910,
foi publicada a primeira edição de As
vidas sucessivas, de Albert de Rochas, contendo importantes evidências das
vidas anteriores. Recentemente, cientistas como Ian Stevenson e Brian Weiss defendem
a teoria reencarnacionista, que já é aceita há milênios pelos seguidores do hinduísmo,
jainismo, budismo, entre outros, e presente na filosofia de Sócrates e Platão
(séc.
Muitos
argumentos contrários à reencarnação são bem fracos. Cientistas apontam como
falha da tese reencarnacionista o fato da população do mundo ter aumentado. Segundo
o blog Hypescience (A realidade da
reencarnação, postado em 27/04/09), “por volta de 1800 havia apenas 1
bilhão de pessoas no mundo. Agora estima-se que estejamos perto dos 7 bilhões.
De onde as novas 6 bilhões de almas surgiram nos últimos 200 anos? Será que
nossos ancestrais tinham seis almas adicionais dentro deles?” Esse argumento
desconsidera a população desencarnada que também participa da humanidade
terrena e, mesmo, as migrações entre planetas.
“Outra
questão é: por que há tantas pessoas no mundo que dizem serem as reencarnações
de pessoas famosas? Afinal, nos dias de hoje, há várias Cleópatras, Joanas
D´Arc e muitos Napoleões e, com certeza, mais de um Jesus.” Que significa? Que
há pessoas equivocadas, acreditando que são reencarnações de famosos.
Imaginação e crença pessoais não invalidam os casos reais de reencarnação e,
muito menos, a própria reencarnação. (Redação)
|
*Texto publicado originalmente na Edição 14 da Revista Leitura Espírita, de Julho/Agosto 2013.
Saudações.
ResponderExcluirNa nota final da redação há um comentário que compromete a competência dos argumentos do autor. Ele afirma que os argumentos contrários à reencarnação são bem fracos. Isto é apenas o desconhecimento do ônus da prova. Ninguém precisa provar que a reencarnação NÃO existe, quem afirma tem tal ônus.
Os argumentos em favor é que são fraquíssimos, a saber:
"Em 1910, foi publicada a primeira edição de As vidas sucessivas, de Albert de Rochas, contendo importantes evidências das vidas anteriores. " Importantes evidências são provas?
"Recentemente, cientistas como Ian Stevenson e Brian Weiss defendem a teoria reencarnacionista" TEORIA é prova? Sem contar que o próprio Stevenson deixou claro ao final de sua vida, como cientista honesto, que não tinha prova definitiva alguma.
"que já é aceita há milênios pelos seguidores do hinduísmo, filosofia de Sócrates e Platão (séc. 5 a. C.)." Falácia da antiguidade. Uma asneira que tem milhões de anos, não deixa de ser uma asneira.
Portanto sugiro ao autor que reveja seus princípios de epistemologia, de estrutura dos argumentos antes de acusar falaciosamente os supostos argumentos contrários que são até dispensáveis.
Abraços