quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Temores e receios


Por Gilberto (Esp.) / Rita Foelker

Lidar com realidades do invisível pode gerar temores e receios diversos. Efetivamente, sentimo-nos mais seguros com relação ao que podemos ver. O que fica oculto aos nossos sentidos físicos oferece asas à imaginação, a qual, nem sempre, consegue trabalhar a nosso favor.
Espíritos, fluidos, vibrações representam forças potentíssimas da Natureza, porém não suplantam o poder da fé e da vontade do bem.
De todas as realidades invisíveis, Deus é a maior, onipotente e incontrastável.
Aprendamos a mobilizar as forças presentes em nosso íntimo, não descurando do estudo e da pesquisa, que nos tornam mais claras as leis do mundo espiritual e reduzem as razões para o medo, infundido no passado reencarnatório, de tudo o que era considerado sobrenatural.
A mediunidade é um sentido natural das criaturas. Os Espíritos pertencem à Natureza e somente agem dentro de suas leis. Tudo na Criação atende à vontade sábia do Criador. Portanto, não criemos coisas que não existem exceto nas mentes superexcitadas, ignorantes ou doentias.
Somos o que pensamos e vivemos em meio aos pensamentos que criamos.

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Thomas Mann e sua experiência com o "oculto"


Por Rita Foelker – Texto inédito

Thomas Mann (1875-1955) é um dos principais autores contemporâneos da língua alemã e escreveu o incomparável A montanha mágica (1924), entre outros livros importantes no panorama da literatura mundial. Seu interesse pela filosofia é reconhecido pelas incursões filosóficas presentes em vários pontos de sua obra, onde ele mesmo se torna um filósofo, sendo um caso típico seu ensaio intitulado Schopenhauer (1939).
Antes, porém, Thomas Mann escreveu uma crônica sobre um tema pelo qual confessa um “ardente interesse”: as manifestações paranormais, a que ele dá o nome de ocultismo. Tamanho interesse levou-o a participar das experiências envolvendo efeitos físicos, realizadas por Albert von Schrenck-Notzing (1862-1929, renomado pesquisador).
O relato que Thomas Mann produziu após seu primeiro contato direto com as manifestações, onde se misturam suas impressões, suas considerações e sua narração dos próprios fatos, recebeu o título de “Experiências ocultas”, cuja tradução para o português encontramos em Diálogo com o invisível, de Ubiratan Machado. O texto inicia-se com a justificativa pela escolha do tema, que ele considera “fantástico”, “desvairado”, “escabroso”, mas... irresistível.

O debate e o lado escolhido

Mann desenha um cenário com a sua visão do contexto cultural onde os fenômenos “ocultos” são debatidos. Segundo o autor, havia dois tipos extremos de posições da ciência na Alemanha a respeito desses fatos, uma “direita rigidamente conservadora” e uma “esquerda radical revolucionária”. De um lado, a negação obstinada de fenômenos que contrariassem a explicação racional; de outro, uma credulidade acrítica. Entre os extremos, muitas nuanças eram encontradas.
Mann admite colocar-se à esquerda. A justificativa para seu posicionamento era ter “acreditado na possibilidade das coisas mais diversas”, mesmo sem poder se “vangloriar de qualquer experiência pessoal no domínio do sobrenatural” (MANN, 2011, p.25). Mesmo acreditando, contudo, seu grau de surpresa com os fatos que presencia fica evidente na narrativa, mostrando que o que viu foi muito além do que podia esperar.
Trata-se de um relato profundamente honesto, de um homem que está mais interessado em compreender o novo que em adequá-lo à sua própria visão de mundo. Uma atitude muito salutar, que poderia ser mais imitada nos meios científicos e filosóficos.
Quanto ao espiritismo, Mann o critica (da forma como o conhece, que não ocorreu pelos livros, mas por ouvir falar de fenômenos e de diversas fraudes mediúnicas).
O autor afirma que espiritismo é uma “metafísica para quarto de empregada” e uma “fé de carvoeiro”, que está muito distante da elevação do pensamento idealista e do sentimento da metafísica. Isto se explica: enquanto, em 1919, Mann já considerava O mundo como vontade e representação, de Schopenhauer, uma obra prima do pensamento metafísico, que reputa digna, pois “a dignidade só existe na esfera do puro espírito” (MANN, 2011[1939], p.22), ele classifica o espiritismo como indigno, possivelmente por se misturar com experimentos terrenos tão “grotescos” (palavra que ele mesmo utiliza).

O ceticismo de Mann

No relato, Mann se declara um cético e defende sua visão do ceticismo, que só pode ser levado à conta de um ceticismo moderado do qual, mesmo assim, chegamos a duvidar em alguns trechos.
O ceticismo, no pano de fundo da filosofia ocidental, é uma corrente filosófica cujo objetivo principal é a ataraxia (imperturbabilidade, serenidade de alma) acerca das coisas que são objeto de opinião. Esta serenidade é alcançada por meio da suspensão do juízo (a atitude de nem afirmar, nem negar coisa alguma).
Mann é um apaixonado pelo assunto e afirma crer, até certo ponto, em coisas que nunca presenciou. Seu ceticismo assumido soa, mais, como uma reserva, certo recato em admitir e expor suas opiniões, que em abster-se delas  – além do que, ele está muito distante da ataraxia, quando o assunto são as manifestações mediúnicas!
O escritor parece aplicar seu ceticismo moderado como um meio de prevenção da credulidade excessiva, mas ao mesmo tempo parece esperar ser surpreendido por alguma verdade a qualquer momento, o que o torna um cético peculiar, ao menos, por admitir sua ansiedade e expectativa.
Sua afirmação, que nos interessa aqui, é também um argumento contra o ceticismo radical: segundo Mann, “não há ceticismo verdadeiro que não se volte [...] contra si mesmo” (2011, p.25).
Faz sentido. Quer dizer que o ceticismo devia ser cético acerca das suas próprias declarações, não as afirmando nem negando... o que, na minha opinião, iria nos levar a um regressus ad infinitum tedioso. No entanto, o ceticismo de Mann, que chamamos de moderado, tem um limite claro (ao menos perante o caso presente), pois algumas de suas declarações sobre os fatos que presenciou são categóricas: de que o experimento era sério, de que se sentia na obrigação de testemunhar perante o público aquilo que viu, de que as precauções eram suficientes para declarar que a fraude seria impossível. 

Referências:

MANN, Thomas, Experiências ocultas. In: MACHADO, Ubiratan. Diálogo com o invisível: experiências espíritas de grandes escritores. Bragança Paulista/SP: Lachâtre, 2011.
MANN, Thomas. Schopenhauer. Disponível aqui. Acesso em 19 Dez 2011


Imagem (acima)Encontro com entre Thomas Mann e Albert Einstein em Princeton, no ano de 1938.

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O conhecimento não funciona como um depósito


Por Rita Foelker - Texto Inédito

O conhecimento às vezes tem sido encarado como um depósito, um quartinho em algum lugar do cérebro onde vamos buscar as coisas antigas de que precisamos. Uma área delimitada e estática. A noção equivocada de que o conhecimento é uma posse leva ao equívoco de acreditar que ele pode ser armazenado e que fica ali parado (empoeirando-se?) até ser requisitado.
Dízimas periódicas, adjuntos adverbiais, algumas vezes, dão-nos essa impressão, porque não lhes atribuímos utilidade imediata e prática.
No entanto, conhecimento é muito mais que uma porção limitada de saberes e sua participação em nossas vidas e escolhas é muito mais dinâmica do que geralmente supomos.
Afinal das contas, aquilo que acreditamos ser está relacionado ao que sabemos. Também aquilo que sentimos se associa ao conhecimento que temos. Se sabemos que férias nos fariam bem, saber que conseguimos férias nos deixa alegres.
Aquilo de que precisamos, aquilo que decidimos, aquilo que mais valorizamos na vida está diretamente relacionado ao que conhecemos. Aquilo que temos como justo ou injusto, como certo ou errado, depende essencialmente do que conhecemos ou ignoramos, não só por leitura, aulas ou conversas, mas pela própria vivência.
E mesmo nossos gestos impulsivos repousam sobre uma base de conhecimento prévio. Quando, por exemplo, gritamos para evitar que uma criança toque numa vasilha muito quente, fazemos isso por conhecermos o dano potencial presente naquela circunstância.
Isso demonstra que aquilo que conhecemos molda nossas ações, define relacionamentos e configura nosso estilo de vida.
Desse modo, mais que um punhado de informações, o conhecimento é parte daquilo que somos, o que faz com que, quando aprendemos algo, de fato nos transformemos em alguém novo, alguém que pode pensar, agir e até mesmo sentir de um modo diferente de antes.
Uma consequência deste caráter dinâmico, interativo, do conhecimento, é apontada por Maturana e Varela: “o fato de que o universo de conhecimentos, de experiências, de percepções do ser humano não é passível de explicação a partir de uma perspectiva independente desse mesmo universo. Só podemos conhecer o conhecimento humano (experiências, percepções) a partir dele mesmo” (1995, p.18).
O conhecimento apresenta então este modo de ser fluido, plástico, mutável, que o torna um objeto de estudo cuja apreensão não é tarefa simples.
Isso, sem falar na própria aprendizagem. O fato é que o desenvolvimento cognitivo engendra novas e mais complexas relações, e estas relações não ocorrem entre conteúdos estanques, mas entre percepções, reações, escolhas e eventos não só em uma única existência, mas em várias existências imbricadas num contexto. Piaget (1975) nos deixou um estudo profundo e fundamentado a respeito de como o conhecimento transforma o cognoscente e de como o cognoscente transforma o conhecimento, com decorrências tanto internas do indivíduo, quanto sociais. Assim, se avançarmos na compreensão de todas as conexões possíveis a partir do que se conhece, podemos chegar à constatação de Maturana (1995, p.26), segundo o qual “criar o conhecimento, o entendimento que possibilita a convivência humana, é o maior, mais urgente, mais grandioso e mais difícil desafio com que se depara a humanidade atualmente”.
“Aprender a aprender”, “aprender a ser” e “aprender a conviver” tornam-se os alvos do processo pedagógico considerado nesta perspectiva. E este aprendizado não é o de um conteúdo programático, mas de uma atitude, como entendemos que pretende Maturana ao afirmar, por exemplo, que “a prática científica constitui um domínio no qual pode-se aprender imparcialidade e respeito pelo outro como uma maneira natural e direta de coexistência” (2001, p.167). Esta maneira natural e direta, como habilidade, continua sendo conhecimento!

Referências:

MATURANA, H.; VARELA, F. G. A árvore do conhecimento. Campinas: Editorial Psy, 1995.
MATURANA, H. Cognição, ciência e vida cotidiana. Belo Horizonte: UFMG, 2001.
PIAGET, J. A equilibração das estruturas cognitivas. Rio de Janeiro: Zahar, 1975.

Saúde sempre


Por Gilberto (Esp.) / Rita Foelker

Todo o cuidado com o próprio equilíbrio, com a busca do justo repouso nas tarefas da mediunidade e toda responsabilidade para com o estudo são providências benquistas aos Espíritos orientadores.
O médium que se propõe a tão somente servir aos trabalhos com a Espiritualidade, deixando de lado as leituras esclarecedoras, o lazer renovador e outras ocupações, além de não prestar um serviço aos Espíritos, desserve a si mesmo e à mediunidade.
A prática mediúnica não deve causar estafa, perturbação emocional ou mental de qualquer tipo, porque é manifestação de uma faculdade natural do ser humano. Os erros de interpretação, os exageros advindos da falta de contato consigo mesmo e com os próprios limites, é que conduzem à desarmonia íntima.
A mediunidade não precisa ser a ocupação principal de nenhuma criatura encarnada, porque o preço desta escolha seria muito alto para a maioria dos Espíritos habitantes da Terra, que têm seus compromissos reencarnatórios, suas famílias e profissões a quem precisam dedicar grande atenção. Além disso, os Espíritos sérios jamais pedem exclusividade, porque se aproveitam das próprias circunstâncias da vida para semear boas sementes nos corações.
Temos o direito de aplicar nossa mediunidade, assim como quaisquer outras capacidades, segundo o livre-arbítrio. Mas temos o dever moral de preservar nossa saúde física, mental e emocional, que são requisitos básicos para o melhor exercício mediúnico.

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

O engano presente na vaidade do conhecimento*


Por Rita Foelker

Em alguns meios onde o estudo, a pesquisa e o conhecimento são valores importantes, é comum surgirem pessoas embriagadas pelo fascínio de conhecer e pela vaidade do conhecimento. São tomadas de assalto pelo sentimento de superioridade em relação a quem, imaginam, “sabe menos”. Não creio que esteja aqui expondo uma novidade.

O ambiente acadêmico apresenta essas situações, mas elas também se encontram em empresas, agremiações filosóficas, grupos de estudo e instituições religiosas.

Se meditarmos um pouco sobre essa questão, identificaremos ali a cegueira do orgulho, que impede de enxergar a realidade. Não tem sentido a vaidade ou orgulho pelo saber. Afinal, o conhecimento não é um adorno, um bem, uma posse. Não é um elemento de distinção que aponta alguém de categoria especial, alguém acima da humanidade comum. Sabe-se que a evolução intelectual não corresponde à elevação moral e que esta, sim, nos diferencia na hierarquia dos seres espirituais.

Embora seja frequentemente pensado como tal, o conhecimento não é um bem, mas uma espécie de relação com as coisas conhecidas, e opera numa interação entre sujeitos e objetos. Ao dizer que “adquirimos” um conhecimento ou nos “apropriamos” de um objeto ao conhecê-lo, estes são de fato termos inadequados para expressar a real situação daquele que conhece.

Isso se patenteia numa reflexão mais cuidadosa. Não somos donos do que sabemos. O filósofo inglês William Whewell1 observa que conhecimento consiste num tipo de experiência na qual sujeito e objeto se unificam, como as duas faces de uma mesma moeda, de modo que não há relação possível se faltar um dos dois polos da relação. Assim, conhecimento é, antes, uma interação do sujeito com o seu objeto e do seu objeto com o sujeito, que uma apropriação.

Mas, mesmo sem considerarmos o conhecimento como uma posse, Humberto Maturana2 observa que em nossa cultura ocidental também vivenciamos a ideia de usar o conhecimento como meio de controle da Natureza, porque associamos conhecimento à ideia de controle, exploração, manipulação. Outro equívoco. O fato é que, e o dia-a-dia nos mostra isto, o controle nos escapa sempre, apesar do tanto que sabemos e de aprendermos mais a cada geração. Continuamos vendo-nos repetidamente perante eventos e processos que não controlamos, incluindo as forças da Natureza e as forças inconscientes no interior de nós mesmos.

“Se o conhecimento leva a alguma parte, é ao entendimento, à compreensão”, afirma Maturana2. E pelo entendimento e compreensão que alcançamos, se não formos cegos, seremos gratos, em lugar de sermos orgulhosos. Mesmo que encaremos o conhecimento como fruto do esforço e do aprendizado pessoal, é forçoso admitir que ele não existiria sem o trabalho e a dedicação de outras pessoas, célebres ou anônimas, que se dispuseram a ensinar e compartilhar o que sabiam. Quem hoje sabe coisas, sabe que existiram estudiosos, mestres, professores, ou mesmo colegas de trabalho, amigos e vizinhos que tornaram isso possível, os quais merecem gratidão e reconhecimento.

Na perspectiva da reencarnação, sabemos ainda que a facilidade para compreender certos conteúdos, a afinidade com certas disciplinas vem, provavelmente, de um esforço empreendido em existências anteriores. Ou seja, houve um momento em que também estivemos no início da aprendizagem, estivemos na condição de desconhecimento destas ideias a que atualmente damos importância e valor. Assim é que, se hoje ainda existe alguém a quem este conhecimento poderia ajudar, para quem ele poderia abrir portas de esclarecimento e melhoria interior, e se nós podemos ser agora os seus facilitadores, cabe a nós aplicarmos a esta tarefa todo amor e humildade de que dispomos, também pensando naqueles que foram nossos mestres e professores dedicados, com respeito e reconhecimento.

No item 28 de O livro dos médiuns, falando especificamente sobre os espíritas, Allan Kardec mencionou o perfil dos “espíritas imperfeitos” como o daqueles que estudam os fenômenos e não demonstram melhoria moral alguma, que valorizam o conhecimento, mas não vivenciam as implicações do conhecimento. Já os “verdadeiros espíritas”, segundo o Codificador, são aqueles que “tratam de aproveitar os seus breves instantes para avançar pela senda do progresso, única que os pode elevar na hierarquia do mundo dos Espíritos, esforçando-se por fazer o bem e coibir seus maus pendores. As relações com eles sempre oferecem segurança, porque a convicção que nutrem os preserva de pensarem em praticar o mal. A caridade é, em tudo, a regra de proceder a que obedecem”.

O que se torna mais importante então, sobre o conhecimento, incluindo-se o conhecimento da vida espiritual e das leis dos fenômenos mediúnicos, são as consequências morais, as transformações que o fato de sabermos essas coisas nos leva a empreender, dentro de nós mesmos e nas nossas atitudes.

Notas:

1. WHEWELL, William. The Philosophy of the Inductive Sciences, founded upon their History. Vol. 1. Classic Reprint Series. Lexington: Forgotten Books, 2010[1847].

2. MATURANA, Humberto. Emoções e linguagem na educação e na política. Belo Horizonte: UFMG, 2002. p.55.

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*Este texto foi publicado originalmente no site da Fundação Espírita André Luiz, em 16/11/2011.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Reino do Espírito


Por Gilberto (Esp.) / Rita Foelker

Gosto de pensar que o Cristo veio anunciar o Reino das alegrias do Espírito.

Algumas tradições religiosas gostam de salientar o quanto ele sofreu, quanto sangue verteu, o quanto foi humilhado... numa visão triste e dolorosa. Mas o Reino de Deus é o reino da paz, do pensar límpido e claro, das metas atingidas, da boa música e poesia, do conhecimento aplicado e do sentimento enobrecido.

Sempre vemos em torno de nós aquilo que grita dentro de nós, porque é o nosso brado interior o que ouvimos, verdadeiramente. A dor física, a tristeza e a humilhação compõem a realidade íntima da maioria das criaturas da Terra. Eis porque, com elas, tanto nos identificamos.

Mas o Cristo veio nos falar da ventura de conhecer a imortalidade, de seguir incólume ainda quando a realidade física se esfacelasse, de triunfar sobre a dor e sobre a ignorância com as forças perenes da alma, ora desconhecidas, mas jamais ausentes.

O Cristo veio nos falar do Pai que todos tínhamos antes mesmo de saber, e que vela por nós na eternidade, em amorosa presença.

E uma das alegrias do Espírito é descobrir as próprias capacidades. Descobrir que pode caminhar, que consegue ler, que sabe escrever uma carta, preparar uma refeição. Por isso, quando descobrimos dentro de nós a capacidade mediúnica ensaiando seus primeiros voos, não é necessário que nossas mentes se encham de temores e preocupações. A mediunidade é um precioso convite ao aprimoramento individual, uma excelente oportunidade de ampliar nossa compreensão da vida, de descobrir amizades no "outro plano"; é um campo que, regado pelas virtudes, muito pode produzir em favor do médium e das pessoas que o cercam.

Mediunidade não é sofrimento, não precisa ser, e se há pessoas que sofrem agruras nos contatos mediúnicos, isto não se deve à mediunidade, mas às suas próprias questões íntimas ainda não resolvidas.

Deus não nos concederia a mediunidade como instrumento de suplício e desequilíbrio, mas como luz a iluminar as sendas do progresso espiritual. Cabe a nós acendê-la e mantê-la em alta consideração em todos os momentos, como a candeia sobre o alqueire porque, muitas vezes, agimos como cegos, espiritualmente falando, não porque tenhamos cegueira, mas porque nos colocamos na escuridão.

Passividade


Por Gilberto (Esp.) / Rita Foelker

Contribuir. Somar.

O médium tem participação ativa nas comunicações dos Espíritos e no contexto da reunião.

Nas comunicações, dizer que o médium oferece aos Espíritos "passividade" cria, algumas vezes, ensejo a um equívoco de interpretação.

O médium não se anula, não abdica de sua vontade, nem de seu autodomínio; não atua como um aparelho telefônico sem qualquer influência no processo de intercâmbio com a Espiritualidade.

Passividade significaria, outrossim, que o médium abre o campo mental e, confiando na orientação superior dos trabalhos, permite-se assimilar as ondas mentais e magnéticas de criaturas presentes, para que possam expressar suas necessidades e opiniões, abstendo-se de interferir, de interpor suas próprias ideias às apresentadas pelas entidades comunicantes.

As conquistas intelectuais e morais do médium têm capital importância na qualidade das comunicações e no próprio comportamento dos Espíritos comunicantes, seja qual for a classe a que pertençam. Afinal, a sua qualidade fluídica também se transmite ao Espírito a ele ligado.

Se os pensamentos pertencem aos desencarnados, do médium procede todo o arcabouço linguístico.

Também os bloqueios, inibições e outras peculiaridades de sua psicologia afetam decisivamente a produção mediúnica e a inteligibilidade das ideias expostas.

Na reunião, o médium compenetrado de suas funções atua como o fiel da balança do equilíbrio, identificando perturbações no ambiente, registrando as inspirações dos Espíritos Orientadores, atendendo ao chamado intuitivo para um socorro mais adequado a certas ocorrências e expondo suas impressões e sensações que podem auxiliar nas avaliações a que toda tarefa deve se submeter, de tempos em tempos.

Ao médium, como aos demais participantes, cabe pronunciar-se a respeito das sensações e sentimentos atuais ou posteriores à reunião, dos procedimentos que achar inadequados, oferecendo sugestões sempre no sentido de melhoria do desempenho da tarefa em seus múltiplos aspectos.

Como se vê, o papel do médium pouco tem de passivo, observando-se apenas que suas palavras tenham sempre o condão do amor e o objetivo de servir, na construção da harmonia coletiva.

domingo, 30 de outubro de 2011

A grande lacuna que a ciência espírita vem preencher

Primeiro, era demoníaco. Depois, patológico. Quando é que as experiências mediúnicas e anímicas receberão o tipo de abordagem que realmente merecem?

Texto inédito

Por Rita Foelker

Os séculos XVI e XVII foram um período marcante da perseguição às feiticeiras e hereges, na Europa. Exatamente no limiar do século XVII, no ano de 1600, concluiu-se um dos mais famosos processos por heresia, aquele que resultou na morte de Giordano Bruno (1548-1600) na fogueira (imagem ao lado).

Os processos do Santo Ofício muitas vezes atingiram pessoas dotadas de mediunidade ostensiva ou, então, pessoas que tinham faculdades anímicas evidentes, como foi o caso dos benandanti, na Itália. Representantes de um culto não-cristão, ligado a certas tradições agrárias, os “andarilhos do bem” compartilhavam uma capacidade hoje bem compreendida, graças à ciência espírita: eles saíam conscientemente do corpo, durante à noite, e afirmavam combater os feiticeiros em favor de uma boa colheita.

A interpretação do fenômeno pela cultura dominante no curso da história – representada, primeiro pela igreja, depois pela ciência –, porém, revela-nos um importante papel da ciência espírita em nosso tempo, que esperamos apresentar neste texto, após algumas considerações históricas.


Processos inquisitoriais na Europa: a demonização da mediunidade e dos fenômenos anímicos


Carlo Ginzburg, historiador italiano e autor de Os andarilhos do bem (Ed. Companhia das Letras), busca as raízes culturais e antropológicas do culto dos benandanti, que tinha similares em outros lugares, como a Dalmácia. Mas parece claro que se trata da assimilação de um fato, a independência do espírito em relação à matéria, que foi vivenciado por muitas pessoas e interpretado em conjunto com algumas crenças e superstições do período. Não é objeto deste artigo, avaliar o quanto dessas descrições de viagens fora do corpo era real e quanto era fruto de assimilação cultural, mas suas raízes na realidade do fenômeno são, para nós, inquestionáveis.

(O livro fala ainda de homens e mulheres que eram investigados por se dizer que elas viam os mortos e traziam recados deles.)

Ginzburg apresenta em sua pesquisa vários interrogatórios aos acusados de heresia. E o autor observa como, no decorrer do tempo, os interrogatórios transfundiram o que era uma espécie de “culto pagão da fertilidade” em um conjunto de práticas incitadas pelo Diabo. A indução por meio de perguntas dirigidas e a tortura acabaram fazendo com que muitos portadores dessas faculdades anímicas e mediúnicas fossem vistos como participantes de sabás de feiticeiras e profanadores confessos dos sacramentos católicos, numa doutrina que posteriormente veio a integrar tratados e sermões católicos em torno do tema. “Seria mais exato falar de superposição do esquema inquisitorial já mencionado a um estrato preexistente de superstições genéricas” que “realizou-se de forma particularmente dramática (...), modelando as confissões dos acusados” (GINZBURG, 2010[1966], p.10). Tudo isto está documentado e acessível ao leitor de língua portuguesa, na obra referida.

Imre Lakatos, filósofo da ciência, (s.d., p.12) escreve: “Se passarmos os olhos pela vasta literatura do século XVII sobre feitiçaria, encontramo-la repleta de relatos de observações cuidadosas e testemunhos prestados sob juramento – até mesmo de experiências. Glanvill, o filósofo oficial da primitiva Royal Society(1), [que tinha finalidades científicas,] considerava a feitiçaria o paradigma do raciocínio experimental.”

Ora: ciência compõe-se de conhecimento do qual temos evidências baseadas na observação e na experiência. Quer se considere que os dados verificam teorias, quer se considere que os dados as falseiam, seu papel é fundamental na atividade científica. Pela relevância insubstituível dos dados experimentais, entende-se comumente que não se pode fazer ciência sobre temas que não apresentem dados à observação. É o caso dos temas clássicos da Metafísica: Deus, a imortalidade e a liberdade.

Além disso, a ciência é um conhecimento que conta com credibilidade e respeitabilidade para fazer afirmações que supostamente se distinguem de opiniões, crenças, ideologia e superstições. Ou que, pelo menos, deveriam distinguir-se.

E realmente chegaria o momento da ciência se pronunciar sobre os fatos ocorridos com os benandanti e outros, similares.

Em Os andarilhos do bem, mais adiante, lemos que “o progresso da medicina levou sempre, cada vez mais, a ver nas bruxas e nos endemoniados nada mais que mulheres fracas, vítimas de alucinações, e indivíduos melancólicos” (GINZBURG, p.163).

E é assim que vai se constituindo a partir dali e gradativamente um segundo estilo de interpretação dos fenômenos anímicos, caracterizada pela patologização desses estados, no decorrer do desenvolvimento da ciência médica e psiquiátrica.


Ciência tradicional: a patologização da mediunidade e dos fenômenos anímicos

Lakatos (s.d.) alertava para uma contaminação do pensamento por estados psicológicos (preconceitos, crenças, superstições, ideologias etc.) que tinha como consequência o seguinte: os procedimentos usados para identificar bruxas serem considerados legítimos, válidos, por serem criteriosos e experimentais. “Ora, o conhecimento mais relevante do século XVII, quando nasceu a ciência, dizia respeito a Deus, ao Diabo, ao céu e ao inferno” (LAKATOS, [s.d.], p.13). Era um conhecimento teológico, cuja má interpretação conduzia à danação eterna.

Na Idade Moderna, o conhecimento científico adquiriu prestígio crescente.

Os cientistas buscaram tornar suas teorias respeitáveis, a fim de serem consideradas conhecimento genuíno. Os critérios teológicos, contudo, não mais serviam, um cientista digno deste nome precisava escapar da sombra da superstição e da teologia, e o caminho para isso era comprovar suas teses baseando-se em experiências e observações (LAKATOS, [s.d.]). Assim, no avanço das ciências, as teorias não comprovadas pelos fatos eram reduzidas a “especulação filosófica” ou acusadas de serem “heresias científicas”.

Passou-se então a interpretar as ocorrências mediúnicas ou anímicas como indícios de estados patológicos. Marcel Mauss adere a esta interpretação ao abordar a época em questão, escrevendo “as mulheres são especialmente sujeitas à histeria; suas crises nervosas fazem-nas então parecer possuídas de poderes sobreumanos” (MAUSS, 2003, p.65). As mesmas ocorrências que, nos tempos atuais, são consideradas entre nós “casos hospitalares ou de homens rústicos” (id., p.365).

A histeria foi analisada por Freud em um artigo de 1895 (KENNY, 1999) e influenciou as ideias posteriores sobre saúde e doença mental. “O próprio conceito de saúde mental, na sua forma moderna, data do tempo em que Freud e os seus colegas começaram a tratar os pacientes histéricos como inválidos genuínos (...)” (KENNY, 1999, p.434).

Lembramos que a contaminação por alguns estados psicológicos (preconceitos, crenças e ideologias) continuou existindo. Só que agora eram outros preconceitos, outras crenças e outras ideologias, nas quais não nos deteremos neste momento.

Verificamos enfim que, quando o conhecimento mais relevante era o teológico, os fenômenos mediúnicos e anímicos foram forçados a se encaixar num molde de heresia e influência demoníaca. Quando o conhecimento mais relevante passou a ser o científico, os fenômenos mediúnicos e anímicos foram forçados a se encaixar num molde de patologia e loucura. Mas o que ressalta disso tudo é que continuamos tendo problemas para lidar com tais fenômenos, dentro destes dois campos. Porque essas leituras, a teológica e a da ciência acadêmica, são parciais: em geral dão conta de apenas uma parte de tudo o que tais fenômenos envolvem, entendendo que o restante, ou não existe, ou não merece atenção. Além disso, os fatos são comumente interpretados por religiosos e cientistas que trazem dentro de si uma carga teórica e de preconceitos, que as impede de compreender o tipo de ocorrência que presenciam e de bem levar a cabo a observação, a interpretação e as conclusões a respeito disso.

Esta é a grande lacuna que a ciência espírita tem a preencher, nos dias atuais: compreender as pessoas que vivenciam estes fenômenos, ajudá-las a compreenderem o que com elas ocorre e a decidirem sobre como irão lidar com esta fenomenologia no seu cotidiano.

Vejamos: A histeria foi considerada um tipo de manifestação corporal de um problema psíquico, pois não se identificavam causas físicas para ele. Bem, no caso dos fenômenos da alçada do Espiritismo, não há causas físicas, e os sintomas físicos são, em geral, parte do conjunto dos efeitos de causas espirituais.

A psiquiatria convencional e a antropologia costumam atribuir rótulos às crises psicoespirituais, chamando-as de esquizofrenia, psicose limítrofe, epilepsia, e até de histeria grave e “defesa culturalmente construída” (GROF, 2006). Mas não são poucos os relatos de médiuns que foram tratados como casos psiquiátricos, sem alívio, sem melhoras, até que a estratégia correta foi adotada e se passou a entendê-los como pessoas que vivenciavam episódios mediúnicos ou anímicos e receberam orientação em conformidade com a teoria e prática espíritas.

A psicologia transpessoal trilhou boa parte de um caminho para a compreensão das questões relacionadas ao lado espiritual dos chamados transtornos psicológicos e mentais. Contudo, é inegável que a base teórica mais completa e consistente para tratar estas questões se encontra na Filosofia e na Ciência Espíritas.

O lugar da Ciência Espírita entre as demais ciências

Desde que o Espiritismo apresenta, como princípios doutrinários básicos, Deus como causa primeira de tudo o que existe, o livre-arbítrio nas ações humanas e a sobrevivência do Espírito à morte do corpo, em geral não se aceita nos meios acadêmicos que possa haver uma Ciência Espírita, pois seria um contrassenso querer fazer ciência em torno de questões que não são e nem podem ser científicas, mas sempre foram metafísicas – Deus, liberdade e imortalidade.

A ciência espírita, contudo, não trata de metafísica. Ela tem, como toda ciência, uma série de pressupostos ontológicos, i. e., entidades que ela admite existirem: Deus, Espírito e matéria. Mas aquilo de que ela trata são dados experimentais e observações que têm em comum o fato de pertencerem ao campo das relações entre o mundo material e o mundo espiritual. São fatos observáveis e documentados fartamente.

Allan Kardec, falando aos espíritas de Bruxelas e Antuérpia, conforme texto publicado na Revista espírita de Dezembro de 1864, afirmou: “o Espiritismo não é uma concepção individual, um produto da imaginação; não é uma teoria, um sistema inventado para a necessidade de uma causa. Tem sua fonte nos fatos da natureza mesma, em fatos positivos, que se produzem aos nossos olhos e a cada instante, mas cuja origem não se suspeitava. É, pois, resultado da observação, numa palavra, uma ciência: a ciência das relações entre os mundos visível e invisível; ciência ainda imperfeita, mas que diariamente se completa por novos estudos e que, tende certeza, tomará posição ao lado das ciências positivas (2).”

Prossegue o Codificador: “o Espiritismo vem mostrar uma nova lei, uma nova força da natureza: a que reside na ação do Espírito sobre a matéria, lei tão universal quanto a da gravitação e da eletricidade”.

A regularidade nas observações, a consistência da teoria espírita é indicativa de que ela é tão segura e confiável, de que seu objeto é tão apto para a pesquisa, quanto os das demais ciências. E que, a partir do momento em que ela for admitida entre elas, estenderemos muito o campo da compreensão humana dos fenômenos que envolvem pessoas e espíritos.

Referências:

GINZBURG, C. Os andarilhos do bem. Tradução de Jônatas Batista Neto. São Paulo: Companhia das Letras, 2010.

GROF, S. The ultimate journey: consciousness and the mystery of death. Santa Cruz (Califórnia): Maps, 2006

KARDEC, A. Revista Espírita. Ano 7, Nº 11. Dez 1864. Disponível em < http://www.febnet.org.br/ba/file/Down%20Livros/Revista%20Esp%C3%ADrita/Revista1864.pdf> Acesso em 29 Out 2011

KENNY, A. História concisa da filosofia ocidental. Tradução: Desidério Murcho, Fernando Martinho, Maria José Figueiredo, Pedro Santos e Rui Cabral. Lisboa: Temas e debates, 1999.

LAKATOS, I. História da ciência e suas reconstruções racionais. Lisboa: Edições 70, s.d.

MAUSS, M. Sociologia e antropologia. São Paulo: Cosac Naify, 2003.



1. A Royal Society de Londres teve início em 1640, com alguns membros, e sua fundação oficial data de 1660. Reuniu eminentes cientistas de várias épocas e continua em plena atividade. Saiba mais em http://royalsociety.org.

2. Em janeiro de 1858, Allan Kardec afirmou na introdução ao primeiro número da Revista espírita, observamos a classificação do Espiritismo como uma "ciência filosófica". Algo que na prática e conforme definições mais recentes de ciência, equivaleria a uma filosofia. Refere-se a uma divisão moderna das ciências em positivas (experimentais) e filosóficas (racionais), as quais "demonstram revelando razões intrínsecas" (ver aqui). No entanto, em dezembro de 1864 havia Kardec transformado seu modo de pensar, afirmando que seu lugar é entre as ciências positivas ou experimentais. Esta mudança tem consequências, que deixamos para analisar num artigo futuro.

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Imagens: No alto, estátua de Giordano Bruno; ao centro, capa de uma edição brasileira do livro de Carlo Ginzburg; embaixo, fotos clássicas de mulheres em episódios de histeria.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

A falácia é mais interessante que o texto, ou como se faz um homem de palha


Por Rita Foelker

Texto Inédito

Em Lógica, falácias (do latim fallax: enganoso) são argumentos que envolvem formas não válidas ou não plausíveis de raciocínio. Por serem aparentemente válidos ou plausíveis, eles podem ser usados para convencer pessoas, mas falham por não dar sustentação eficaz ao ponto que pretendem provar.

A matéria de capa da SuperInteressante de Outubro/11 – Ciência Espírita – é uma boa amostra de texto falacioso.

Ela começa não assumindo suas reais intenções perante o leitor. O lead (conjunto de frases sob o título principal) parece indicar uma abordagem positiva das pesquisas, pois remete a “resultados surpreendentes”. O texto, contudo, frustra a expectativa criada, pois todos os fatos que seriam surpreendentes são ridicularizados ou desqualificados, algumas vezes, apenas por tiradas sarcásticas e sem graça...

Mas o texto como um todo utiliza uma falácia que costumamos chamar de “o homem de palha”. Às vezes chamada de “falácia do espantalho”, ela ocorre ao se distorcer a posição do oponente em um debate, a fim de que ele possa ser atacado mais facilmente.

É uma falácia muito empregada em publicidade, quando o anunciante apresenta os problemas do produto concorrente de modo exagerado ou inverossímil, para destacar a qualidade do seu próprio produto.

O ataque é contra as crenças espirituais que levam a empreender pesquisas em torno da reencarnação e EQM. O artigo da Super monta seu homem de palha aos poucos. Ele diminui o valor do critério do pesquisador e psiquiatra do ProSER/USP, Frederico Leão. O fato de sua pesquisa ter saído numa publicação acadêmica recebe a observação de que “estudos de qualidade duvidosa” acabam passando pelo crivo das melhores revistas. Note-se que essa observação parte de um assumido defensor do ceticismo.

O cardiologista inglês Sam Parnia é chamado de “estrela internacional da ciência do além” que prepara “experiências para caçar fantasmas”. O psiquiatra e professor da Universidade Federal de Juiz de Fora/MG, Alexander de Almeida, virou “o braço direito de Sam Parnia por aqui”. O neurologista inglês Peter Fenwick foi o “cara que transformou as experiências de quase morte em assunto dos almoços de domingo”.

Já o(s) cético(s) que, segundo o artigo, colaboraram emitindo comentários, não recebem cognomes pejorativos.

Os pesquisadores da reencarnação são acusados de terem suas pesquisas contaminadas por conversas prévias entre as pessoas, prejudicando a coleta de depoimentos isentos, e de reunirem a maioria dos casos em países onde a crença na reencarnação é mais comum. Aqui encontramos outra falácia, conhecida como “generalização apressada”, que ocorre quando você procura formar uma regra geral ao examinar apenas poucos casos específicos que não necessariamente são representativos de uma classe.

Os pesquisadores acabam parecendo tolos, ingênuos de mentalidade anticientífica, quando seu trabalho mostra que são cientistas sérios efetuando pesquisas com resultados valiosos.

Por isso precisamos ter bastante cuidado ao ler matérias como essa.

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Orientações


Por Gilberto (Esp.)/Rita Foelker

Os Espíritos trabalhadores das reuniões mediúnicas não se furtam a oferecer orientações para os procedimentos da reunião, a condução dos estudos e a melhoria individual dos médiuns e demais participantes.

O que diz respeito aos trabalhos e estudos da equipe pode ser objeto de consultas ou perguntas, que serão respondidas conforme seja avaliada sua necessidade e oportunidade.

Afinal, muito do que se pergunta poderia ser respondido pelos próprios encarnados, com um pouco de atividade mental e troca de ideias.

Tais orientações, apenas excepcionalmente, atendem a uma necessidade particular de um membro da equipe. Quando nos é permitido, temos prazer em dialogar sobre assuntos pessoais em que se busque clareza e lucidez, no entanto, isto será feito de maneira breve e objetiva, sem interferir nas finalidades principais da reunião. É comum que, no estado de relaxamento e concentração que precede as comunicações, ou mesmo durante os trabalhos, a criatura em dificuldades receba intuições ou uma breve mensagem psicografada, como contribuição amorosa de um Espírito amigo ao encaminhamento do seu caso específico.

Agora: a mídia vem acostumando as pessoas a serem consumidoras de informações, lendo e ouvindo muito rapidamente, porém refletindo pouco. Isto as habitua a desejarem sempre ouvir mais, sem que necessariamente se tenha aprofundado e refletido sobre o teor do que foi falado.

As orientações dos Espíritos, ao contrário, não ocorrem tão amiúde, em geral, porque para compreendê-las em sua profundidade e alcance, é preciso voltar a elas, reler, dialogar a respeito, comparar as interpretações que cada um fez. É preciso, sobretudo, colocar em prática uma lição e experimentá-la, antes de se passar à seguinte.

Nesses moldes, o relacionamento entre o grupo encarnado e o desencarnado dará bons frutos e a evolução individual e da equipe será sentida por todos.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Onde fica o mundo espiritual?*


Por Rita Foelker

Kant foi um filósofo que muito se esforçou para compreender a condição de possibilidade da experiência e, assim, do conhecimento. Em sua vasta obra escrita, alguns aspectos ficaram conhecidos e dentre eles destacam-se as formas puras da intuição. Segundo ele, o conteúdo da experiência (cores, cheiros, sons etc.) na qual estamos mergulhados somente pode ser conhecido e adquire algum sentido quando é visto com referência ao espaço e ao tempo, que são as formas puras da intuição. É impossível, diz Kant, conhecer os objetos externos sem que estejam ordenados em uma forma espacial, assim como nossa percepção interna desses mesmos objetos não é possível sem uma forma temporal. Isto é o que se depreende da leitura de sua “Estética Transcendental”. As formas puras da intuição são a priori, ou seja, elas antecedem a experiência para ordená-la.
É inegável que nossa maneira de pensar habitual transita no âmbito destas formas puras da intuição. E mesmo ao pensar realidades que não são experimentadas no espaço e no tempo por nós, como os átomos, os buracos negros, o mundo espiritual ou as experiências de quase morte (EQM), nossa tendência é partir das noções de espaço e tempo e simplesmente aplicar estas formas da intuição até o infinito – imaginando-se o infinito como uma extensão imensurável de espaço e, também, a eternidade como uma duração sem fim.
O modelo atômico de Rutherford-Bohr, por exemplo, do início do século XX, lembrava um pequeno sistema planetário. Era como se, ao nos tornarmos suficientemente minúsculos, pudéssemos viajar no “interior” de um átomo. Numerosas EQM são relatadas como passagens “através de túneis”. E é difícil pensar-se num buraco negro sem pensar em “coisas” sendo sugadas para “dentro” dele.
Mas até que ponto essas aproximações conceituais são legítimas?

Limites das ideias de tempo e espaço

Alguns conceitos da chamada física clássica estão presentes nesta forma de ordenar a experiência: a independência completa da estrutura espaço-temporal em relação à matéria, a independência completa entre o sujeito observador e o objeto observado. Assim, referimo-nos ao átomo, à morte e aos buracos negros como se fossem locais pelos quais o “eu” pudesse excursionar, usando referências como “em cima”, “embaixo”, “dentro”, “fora”, entre outras similares. Parece que sempre se pode usar a física de Newton nestas instâncias. (Para Kant, a propósito, a Física newtoniana era o próprio paradigma de ciência, e ela nos oferece a uma imagem do mundo que parte de nossas experiências cotidianas e nelas se baseia para referir-se aos fatos.)
Não obstante, os avanços da física moderna e a teoria da relatividade restrita levaram ao abandono da visão clássica (não detalharemos estas mudanças no presente texto). E de tal modo, que olhar para as coisas como dispostas num espaço tridimensional da geometria euclidiana (ver quadro), embora continue ocorrendo implacavelmente em nossa maneira mais comum de lidar com os dados da experiência, torna-se apenas isto: uma maneira de olhar. Um jeito de interpretar os fenômenos, um jeito semelhante à nossa experiência cotidiana, mas que não retrata precisamente a realidade a que se pretende referir, pois não podemos falar de átomos ou de partículas subatômicas como quem fala de bolinhas de gude, nem da EQM como um lugar com latitude e longitude definidas.
A literatura espírita muitas vezes apresenta este “jeito de olhar”, onde se busca falar de vivências no mundo espiritual, ou na mente, ou nos estados de emancipação da alma (sono, sonambulismo, êxtase) como se fossem localizados no espaço e durassem certo tempo. Ocorre, porém, que, citando Heisenberg (em A Ordenação da Realidade), “nossa intuição habitual não é mais competente para esses domínios”. Apenas por analogia, tais conceitos espaço-temporais podem ser usados.
O que fazemos, então, é usar o recurso da imaginação, atribuindo extensão, forma, número e duração aos elementos de uma experiência fora dos padrões cotidianos, a fim de que ela possa ser descrita em palavras e compreendida por outros.
Talvez alguém se surpreenda pelo fato de que mesmo os espíritos desencarnados podem manter-se vinculados às formas do espaço e do tempo, referindo-se à sua própria condição como se estivessem habitando determinado local que chamam de “céu” ou “inferno”. É que o desencarne não significa descondicionamento de certas formas de pensar. Segundo O Livro dos Espíritos, questão 966: “Muitíssimo incompleta é a vossa linguagem, para exprimir o que está fora de vós. Teve-se então que recorrer a comparações e tomaste como realidade as imagens e figuras que serviram para essas comparações. À medida, porém, que o homem se instrui, melhor vai compreendendo o que a sua linguagem não pode exprimir.”
Ressalve-se que alguns lugares, como cidades e hospitais, são mantidos no mundo espiritual com o objetivo de acolher os seres recém-chegados do plano terreno, a fim de recebê-los, oferecer cuidados e orientação. Esta necessidade, porém, é passageira, e deixa de existir conforme o espírito se integra em sua nova situação.
O que se pode dizer, acerca da pergunta-título, é que esta questão provavelmente não faz nenhum sentido. A palavra “onde” pouco ou nada nos pode revelar sobre a realidade espiritual que está além de nossas percepções habituais e que não pode ser descrita em termos de extensão ou duração.



"Euclides estava de fato agindo como um físico, usando sua experiência de vida no fraco campo gravitacional da Alexandria helenística para criar uma teoria de espaços não-curvos. Ele não sabia quão limitada e acidental era sua geometria." (S. Weinberg, em Sonhos de uma teoria final)



Como expressar noções e percepções abstratas da realidade espiritual?

Escritores e artistas tentaram expressar conceitos da vida espiritual e as leis universais por escrito e, mesmo, graficmente.
Robert Fludd (1574-1637), um filósofo, artista e famoso ocultista inglês do século XVI tentou transmitir conhecimentos metafísicos na forma de desenhos. Em De Monochordum Mundi (1623), Fludd compara o Universo com um monocórdio (instrumento musical duma só corda) e, desse modo, consegue expor ideias de uma harmonia matemática e musical presente na Criação, provavelmente baseado na ideia pitagórica da “música das esferas”, em que cada corpo celeste vibraria uma nota musical. O que Fludd pretendia transmitir era a ideia de que todo o universo reproduz uma música inaudível e harmoniosa que reflete a inteligência e a unidade da criação.
Temos outros exemplos figurativos a alimentar nossa imaginação: as ilustrações de Gustave Doré, no século XIX, para a Bíblia, e as visões de Johfra Bosschart, artista holandês contemporâneo, com ampla utilização de símbolos, criando visões fantásticas parecendo dispostas num espaço tridimensional.

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*Texto publicado originalmente o site da FEAL, em 15/09/2011.

sábado, 3 de setembro de 2011

Werner Heisenberg e o fim da ciência materialista

Por Rita Foelker – Texto Inédito

Werner Heisenberg (1901-1976) foi um cientista que valorizava a filosofia, interessava-se em refletir sobre a condição humana e nos deixou muitos textos filosóficos. Ele criticou a ciência materialista, tinha uma concepção própria da origem da ontologia materialista que predominou nas ciências posteriores a Descartes e entendia que este predomínio tinha relevantes consequências éticas e sociais.

Para adentrar alguns aspectos do pensamento do físico alemão, precisamos entender inicialmente em que consiste o materialismo que ele critica.

Para entender-se mais exatamente do que trata o materialismo, recorremos à abordagem sinótica de Oswaldo Pessoa Júnior (2006), que resume as teses do materialismo em dois grupos: as nucleares – definidoras do materialismo – e as periféricas, cuja negação pode ser consistente com ele. As teses definidoras do materialismo, para o autor, são:

  • A natureza segue seu curso conforme leis científicas nas quais, caso exista um Deus, ele não interfere.
  • Podemos nos referir à natureza como uma realidade independente da perspectiva do observador.
  • Nada existe fora ou independente da matéria, mente e alma são fenômenos explicáveis pelas leis da matéria.
  • Não existem desígnios ou causas finais, expressos nas leis da natureza.

Pensamento de Heisenberg

Ao ler os escritos de Heisenberg, verificamos seu entendimento de que a ciência não tinha estas características na Antiguidade e Idade Média. A natureza então era tida como uma criação divina e esta característica lhe era inseparável, o que se depreende das filosofias de Platão e Aristóteles.

A matematização das leis da natureza, contudo, que se inicia na Renascença com Galileu Galilei, tornaria possível pensar que se pode compreender o mundo sem necessitar de uma divindade, mas por meio das leis nela inscritas, que os homens desvendam. No século XVII, Descartes instituiria pela primeira vez na filosofia a cisão tripartite da realidade - entre o eu, o mundo e Deus –, num exercício de racionalidade que se pode acompanhar em suas Meditações Metafísicas. Seguindo os passos de sua argumentação, chega-se a uma conclusão cujo efeito é o sujeito e o objeto se apartarem um do outro, o pensamento de um lado, a coisa do outro, sendo atributo do pensamento compreender a coisa que é totalmente distinta dele. E ambos distanciarem-se de Deus.

A física clássica, a partir de Newton*, consubstanciaria a realização desse projeto: apresentaria um tipo de conhecimento eminentemente objetivo, da mente sobrepairando a matéria e podendo conhecê-la e manipulá-la, criando uma descrição do comportamento da matéria no espaço e tempo como uma entidade separada da mente e de Deus.

Os avanços da ciência no século XIX, contudo, mostrariam as dificuldades enfrentadas por esse modelo de ciência. O quantum de ação de Planck, a teoria do campo de Faraday, o experimento com a radiação do corpo negro de Maxwell, por exemplo, apresentariam resultados perturbadores dessa visão mecanicista-materialista. E a crise da física clássica se aprofundaria ainda mais após a publicação dos artigos de Einstein entre 1900 e 1905.

Para Heisenberg, os efeitos de tal crise ultrapassariam as fronteiras da ciência e colocariam em pauta o próprio conceito de realidade em que acreditamos.

Realidade

Diferente da física newtoniana, a física atômica e quântica apresentam conclusões contra-intuitivas: não obedecem à linearidade do tempo, inserem o observador no experimento, dissolvem a matéria em elementos ínfimos que não se parecem em nada com a matéria macroscópica de nossas experiências cotidianas.

Quanto ao papel do observador nos experimentos, a relação entre sujeito e objeto implícita na física clássica era caracterizada pela total autonomia. Podia-se falar de átomos como coisas, como pequeninos objetos independentes em relação ao pesquisador. Os avanços da física moderna impossibilitaram esta compreensão da natureza, na medida em que não foi mais possível descrever o mundo sem referência ao homem, pois não mais se podia falar de um objeto observado do observador.

“Pouco a pouco, se foi modificando o significado da palavra [natureza] como objeto de pesquisa da ciência” (HEISENBERG, s.d., p.10). A ciência deixou de tratar da natureza, para tratar de nosso conhecimento da natureza.

As partículas mais diminutas se tornaram expressões meramente simbólicas, deduzidas matematicamente.

Como assimilar essas transformações?

A resposta a tantas transformações, segundo Heisenberg, seria repensar o conceito de ciência, abandonando o materialismo que a condicionava anteriormente e admitindo os limites da investigação científica.

Nesta nova perspectiva, a ciência não mais pode ser entendida como o único conhecimento possível da natureza. Nem a natureza pode ainda ser entendida como um conjunto de coisas.

A ciência é possível onde há certo grau de objetividade a ser alcançado. Quanto mais um determinado conhecimento está relacionado ao sujeito, menos a ciência pode se pronunciar sobre ele. Desse modo, há parcelas da natureza não alcançáveis pelo conhecimento científico.

A ciência não mais fala o que é a natureza – e nem poderia – ela não emite a última palavra sobre seu funcionamento como algo independente do modo como nos relacionamos com ela.

Heisenberg afirmará, em vista disso, que a ciência precisa ser vista como um elo da “cadeia infinita de contatos” que o homem estabelece entre si mesmo e a natureza.

Ao buscar a objetividade, escolher um centro de interesse e definir variáveis, a ciência de certo modo nos distancia da natureza em sua totalidade. Mas é ela também um meio de reconhecimento do papel do ser humano nessa rede de conexões que constitui a realidade.

A matemática

Ao fazer ciência, descobrir regularidades e traduzir conceitos em linguagem matemática (simbólica), o ser humano gera um grau de compreensão da realidade, segundo seu alcance intelectual. Para Heisenberg “a matemática é [...] a linguagem em que os problemas podem ser postos e resolvidos” (s.d., p57).

Ele afirmaria, também: “Se a natureza nos conduz a formas matemáticas de grande simplicidade e beleza [...], não podemos evitar pensar que elas sejam “verdadeiras”, que revelem um aspecto genuíno da natureza. Pode ocorrer que essas formas também abranjam nossa relação subjetiva com a natureza, ou seja, reflitam elementos de nossa economia do pensamento. Mas o simples fato [...] de nunca termos podido chegar a estas formas por nós mesmos, de elas nos serem reveladas pela natureza, é uma forte sugestão de que elas devem fazer parte da própria realidade, e não apenas de nossos pensamentos sobre a realidade” (HEISENBERG, 1971, p.68, tradução minha).

Heisenberg, assim, propõe que a natureza contém formas belas e simples que se traduzem matematicamente. Estas formas levam ao reconhecimento de uma ordem subjacente, inalcançável pela ciência, que Heisenberg denominaria em diversos escritos como “ordem central”. Segundo ele, “sempre houve um caminho para a ordem central na linguagem da música, na filosofia e na religião” (HEISENBERG, 1971, p.11, tradução minha).

“Ordem central”

O físico alemão afirma: “Nas diversas filosofias e religiões, vários nomes foram dados à bússola: felicidade, vontade de Deus, sentido da vida, para mencionar apenas uns poucos. [...] Tenho a clara impressão que tais formulações procuram expressar a relação do homem com uma ordem central. Todos sabemos que nossa própria realidade depende da estrutura da nossa consciência; não podemos objetivar mais que uma pequena parcela de nosso mundo. Porém, mesmo quando tentamos investigar o domínio subjetivo, não podemos ignorar a ordem central” (id., 1971, p. 214, tradução minha).

Ainda sobre o papel desta ordem, lê-se em Physics and Beyond..., que: “As condições geológicas e climáticas especiais vigentes no nosso planeta conduziram ao surgimento de uma química complexa do carbono, com moléculas gigantescas nas quais informação pode ser armazenada. O ácido nucléico mostrou-se um reservatório apropriado de informações sobre a estrutura dos seres vivos. Com ele, uma decisão única foi tomada e foi estabelecida uma forma que determinou todos os processos biológicos posteriores. [...] Nossas partículas elementares são comparáveis aos sólidos regulares do Timeu de Platão. São os modelos originais, as ideias da matéria. O ácido nucléico é a ideia do ser vivo. Tais modelos determinam todos os desenvolvimentos subsequentes. Eles são representativos da ordem central” (1971, p.240-241, tradução minha).

Retomando as teses definidoras do materialismo, percebemos a lógica de Heisenberg para destruí-las:

Há, portanto, uma ordem central subjacente a todos os fenômenos que integram a vida humana, ordem que revela regularidade, unidade, simplicidade e beleza das estruturas presentes na natureza. As leis científicas resultam de uma decisão, uma intenção inteligente, segundo Heisenberg, o que torna possível pensar-se num Criador, embora o físico alemão não admita isso abertamente.

A descrição da natureza não pode ser feita de sem levar-se em conta a perspectiva do observador, o que solapa a tese de um mundo externo totalmente independente.

Não existe apenas matéria. Há algo além da matéria no Universo, que pode ser traduzido como “ordem central” e é percebido em forma de relações matemáticas, beleza e simplicidade. A ocorrência de tais decisões torna possível pensar-se em causas além das meramente eficientes. Em uma teleologia ou finalidade para essas leis.

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*Newton, pessoalmente, não pensava deste modo, e entrever Deus por meio das leis do Universo é uma das características presentes em suas obras, especialmente a Optica.

PESSOA JÚNIOR, O. O dogmatismo científico de tradição materialista. In: Estudos de História e Filosofia das Ciências: subsídios para aplicação no ensino. São Paulo: Livraria da Física, 2006. p.41-57.

HEISENBERG, W. Physics and beyond: encounters and conversations. Londres: Allen & Unwin, 1971.______. Física e filosofia. Tradução Jorge Leal Ferreira. Brasília: UnB, 1981.

______. A imagem da Natureza na Física Moderna. Tradução J. I. Mexia de Brito. Lisboa: Livros do Brasil, s.d.

Imagens: Fractal Food, Who was Werner Heisenberg?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

“Milagres” são possíveis?


Por Rita Foelker - Texto inédito



Agora todos admitimos que a verdade pode tomar conta de si mesma, e que apenas o erro precisa de proteção. (A. R. Wallace)



David Hume (1711-1776) foi um filósofo que ficou conhecido, entre outras coisas, pelo fato de haver fornecido argumentos céticos aos filósofos da ciência e aos adeptos do ceticismo filosófico em geral. Seu ataque à ideia da causação como uma realidade independente de nós, transformando-a em fruto do hábito mental humano, de aguardar repetições futuras de sequências de eventos que ocorreram no passado, impressionou grande número de pensadores avessos à metafísica.
Hume era, sem dúvida, um bom escritor e sua retórica podia até persuadir os desprevenidos. Contudo, Hume não dominava tão bem a lógica. Desse modo, filósofos que compreendiam os mecanismos da lógica formal ou informal, e que decidiram analisar seus raciocínios, conseguiram desmontar vários deles, mesmo que não alcançassem o mesmo grau de celebridade nos meios filosóficos.
Thomas Reid (1710-1796), seu contemporâneo, debateu sua tese da causação como fruto da conjunção constante entre dois eventos, em que o primeiro é considerado causa do segundo por força do hábito criado pela repetição. Como base principal de sua réplica, Reid afirmou que, se esse era mesmo o caso, então a primeira vez em que dois eventos ocorressem conjuntamente, não se poderia considerar o primeiro como causa do segundo. Assim sendo, a conclusão plausível é: se não há histórico de conjunções causais anteriores, não pode haver causação. Em outras palavras, se a cidade do México fosse destruída por um terremoto sem que tivesse ocorrido algum terremoto anteriormente, então não se poderia afirmar que o terremoto causou a destruição na cidade.

Se um humeano dissesse que não era preciso pensar-se num terremoto, mas em qualquer tremor que abalasse uma superfície, para entender o ocorrido na cidade, ainda restaria a questão: qual o grau de generalidade ou especificidade de uma conjunção de eventos seria exigido na determinação de sua constância (STANFORD, 2009)? Como se vê, o pressuposto de Hume é problemático.
As ideias de Hume conservaram seu prestígio em certos meios acadêmicos e, noutro tempo, mais adiante, seria a vez de Alfred Russel Wallace (1823-1913) analisar as afirmações de Hume, tratando da questão dos milagres perante a Sociedade Dialética de Londres em 1871.
Hume começa analisando os problemas com a própria definição de milagre adotada pelo filósofo escocês. Afirmar que um milagre é uma “violação das leis da natureza” seria assumir que nós conhecemos todas as leis da natureza, o que é uma afirmação altamente ousada e impossível de ser provada, segundo Wallace.
Esta é, a propósito, a concepção exarada por Kardec (2005[1890], p.152) em Obras póstumas: “No sentido teológico, o caráter essencial do milagre é o de ser uma exceção aberta nas leis da Natureza, o que, conseguintemente, o torna inexplicável mediante essas mesmas leis. Deixa de ser milagre um fato, desde que possa explicar-se e que se ache ligado a uma causa conhecida. Desse modo foi que as descobertas da Ciência colocaram no domínio do natural muitos efeitos que eram qualificados de prodígios, enquanto se lhes desconheciam as causas.”
Mas o exame de Wallace das teses de Hume acerca dos milagres é extenso e contempla outras peculiaridades do discurso humeano. Ele agora pode ser lido em português, por meio da tradução feita por Jáder Sampaio para o livro Diálogo com os céticos.

KARDEC, A. Obras póstumas. Rio de Janeiro: FEB, 2005.
YAFFE, G. Thomas Reid. In: Stanford Encyclopedia of Philosophy. 2009.

Serviço: WALLACE, A. R. Diálogo com os céticos. Col. Biblioteca da Ciência e Espiritismo. Tradução Jáder Sampaio, apresentação Astrid Sayegh. Bragança Paulista/SP: Lachâtre, 2011.
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Imagens: Acima à direita, Alfred Russel Wallace; mais abaixo, à esquerda, Thomas Reid.

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Naturalidade



Por Gilberto (Esp.)/Rita Foelker

Aceitar a naturalidade das comunicações mediúnicas nos momentos de reunião do grupo ou, alhures, em meio às ocupações rotineiras ou nos momentos de repouso, é tão somente reconhecer, na mediunidade, as características de um sentido espiritual de que não nos podemos desfazer e retomar, a bel prazer.
Percepções mediúnicas podem estar presentes com frequência em nossas vidas, sem que delas nos tornemos dependentes e sem que tenhamos de abandonar os afazeres normais.
Nenhuma pessoa em equilíbrio passará horas seguidas a ocupar-se dos misteres mediúnicos, no entanto, é inegável que intuições, vidências ou percepções outras não têm hora ou lugar específico para acontecer. Um aviso, uma inspiração, podem ser maneiras dos Benfeitores Espirituais se achegarem a nós, quando o temor, a dúvida ou a revolta estiverem prontas a envolver nossos corações.
Os contatos com a Espiritualidade serão benfazejos quando, ao favorecer a harmonização íntima e a compreensão superior das situações que atravessamos, nos permitam ajudar com nossa fé e nossas palavras aqueles que a vida aproximou de nós. Quando, porém, tornarem-se motivo de alienação dos deveres diários, fuga da realidade e do convívio com os irmãos, é necessário encontrar, na balança das necessidades diárias, o equilíbrio entre as tarefas mediúnicas e as solicitações da vida física.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Mediunidade e segurança



Por Gilberto (Esp.)/Rita Foelker

É importante que o médium sinta-se seguro quanto ao seu próprio potencial mediúnico. O exercício constante e as variegadas experimentações permitirão que aja com desenvoltura nas mais diversas expressões de sua faculdade.
O conhecimento adquirido em leituras e no diálogo com médiuns mais experimentados será de suma importância no entendimento do que se passa durante as manifestações e na construção da atitude íntima mais propícia aos bons resultados.
No entanto, a firme certeza das próprias capacidades não será sinônimo de impressão de infalibilidade. Diante das multifacetadas personalidades desencarnadas de que será intermediário, sempre estará sujeito aos mais diferentes matizes do pensamento e das emoções, que poderá não estar apto a reconhecer sozinho. Mediunidade é porta aberta a contatos espirituais tão singulares quanto as características das personalidades comunicantes, e a verificação dos objetivos e propósitos das comunicações só pode ser feita, retomando cuidadosamente a escrita ou a fala, analisando-as para perscrutar-lhes as reais intenções.
Incomoda a alguns médiuns ter suas comunicações analisadas, geralmente pela própria insegurança. Mas ao seguidor do Cristo deve a verdade importar, acima dos personalismos.
Até porque, quanto mais minuciosa a análise da produção mediúnica, maior o conhecimento da própria mediunidade e maior poderá ser a segurança quanto às próprias possibilidades. O médium sincero não deseja permanecer iludido ou cego, porque a ilusão e a cegueira prejudicam seu desempenho, limitando as suas possibilidades de trabalhar na Seara do Bem.
Ao mesmo tempo, todo esforço sincero de desenvolvimento pessoal e aprimoramento mediúnico, ainda que pareça um pequeno passo, será levado à conta de inestimável conquista espiritual, quando não se envergonha de si mesma na pretensão de demonstrar qualidades outras que, embora desejáveis, ainda permanecem imaturas no imo do Ser.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Ciência espírita: falseabilidade e valores epistêmicos


Por Rita Foelker (TEXTO INÉDITO)

Fato amplamente aceito pelos filósofos da ciência: na atividade científica, não existe observação sem teoria (Kuhn, 2000), ou seja, para se fazer o estudo de um conjunto de fatos é indispensável um ponto de partida numa teoria prévia ou num paradigma (em sentido kuhniano) que seja capaz de fornecer o quadro geral, apontar um método, valorizar certos dados em detrimento de outros e interpretar resultados. A escolha teórica é outro fato da pesquisa científica que já ocupou muitas páginas e livros de filosofia da ciência: de qual teoria vou partir para estudar tais fatos ou tentar solucionar tal problema?.

Hoje a maioria dos filósofos da ciência reconhece que os critérios aplicados no momento dessa escolha são extracientíficos, embora racionais. Eles não são extraídos do próprio método científico e nem se encaixam numa teoria científica, mas também não são aleatórios. E a própria história da ciência nos apresenta aqueles que foram repetidamente utilizados por cientistas. Alguns dos mais conhecidos são:

a) Falseabilidade, que é a capacidade de fazer afirmações que possam ser testadas e eventualmente falseadas perante os fatos observados (Popper, 1980);

b) Fertilidade, que consiste na capacidade de uma teoria de levar a novas descobertas, também conhecido como “poder heurístico” (Lakatos, 1979);

c) Simplicidade, segundo a qual entre duas teorias concorrentes para explicar um dado conjunto de fatos, considera-se que a mais simples deve ser a verdadeira (Kuhn, 2000);

d) Abrangência, a capacidade de resolver o maior número possível de problemas da pesquisa (Kuhn, 2000).

Os critérios apontados em A estrutura das revoluções científicas, em 1962, por Kuhn (2000) foram objeto de vasta controvérsia, o que o levou a escrever novamente sobre o assunto, dezessete anos mais tarde, num artigo para o livro A tensão essencial, de 1977. O autor então propôs, nesse novo texto, que a escolha teórica deveria ser compreendida em termos de valores epistêmicos. Eles deveriam ser considerados em lugar das “regras metodológicas” que operacionalizassem a “análise lógica de materiais empíricos” (Círculo de Viena, 1929), como desejava o positivismo lógico, pois trata-se de uma situação em que “não pode haver qualquer prova” (Kuhn, 1989).

Kuhn (1989) apontou então cinco características de uma boa teoria científica, que incluíam a fertilidade, a simplicidade e a abrangência (não só relativa aos problemas previstos pela própria teoria, mas indo além deles) citadas acima, e também a exatidão e a consistência:

e) Exatidão, segundo a qual a teoria tem consequências que precisam estar de acordo com as experimentações e observações existentes.

f) Consistência, que seria a ausência de contradição em relação a si própria e às teorias correntes que versem sobre o mesmo conjunto de fatos. (Entendemos que, embora seja um fator que influencie o cientista, a consistência externa pode ser questionada como valor epistêmico, visto que as demais teorias correntes podem estar erradas, tendo sido aceitas, talvez, exatamente por serem consistentes ou compatíveis umas com as outras. A consistência interna é claramente bem mais importante que a externa.)

Diferente das regras, os valores são “suscetíveis de divergência quanto à sua significação e aplicabilidade” (Barra, 2000). No entanto, eles são relevantes na medida em que, segundo Lacey (1997) observa, há “a referência à estrutura de valores hierarquicamente ordenada que se expressa na vida de uma pessoa. Tais estruturas de valores definem os mundos dos agentes: o que é significante para eles, o que é desejável e indesejável para eles, o que acham admirável e desprezível, que emoções exprimem, seus interesses e aspirações, o que consideram uma vida plena. Entender os outros requer acesso a suas estruturas de valor, entender seu ponto de vista mesmo sem compartilhá-lo [...] (Lacey, 1997, p.90-91).


Ciência segundo Allan Kardec e valores epistêmicos


Allan Kardec é um modelo de cientista para os espíritas, nas pesquisas e desenvolvimento da Ciência Espírita. Ele valorizava algumas características da teoria espírita, valorização que expressou em alguns lugares de suas obras. E também usava alguns critérios na análise dos fatos que estudava. Isso nos levou a perguntar: Quando ele se posicionou perante a teoria e os fatos espíritas, considerou alguns dos valores epistêmicos? E quanto à falseabilidade popperiana, ela é admitida por ele?

Falseabilidade. Bem, iniciando pela falseabilidade, uma das afirmações mais conhecidas do Codificador é que “o Espiritismo, avançando com o progresso, jamais será ultrapassado, porque, se novas descobertas lhe demonstrarem que está em erro acerca de um ponto, ele se modificará nesse ponto; se uma verdade nova se revelar, ele a aceitará” (Obras póstumas, p.470). Desse modo, as teses espíritas podem ser falseadas pelos fatos e este é um aspecto que garante a própria sobrevivência da Ciência Espírita.

Fertilidade. A fertilidade (ou poder heurístico) foi apontada pelo Codificador como elemento de confirmação, por exemplo, da teoria do perispírito. “O perispírito, como se vê, é o princípio de todas as manifestações. O conhecimento dele foi a chave da explicação de uma imensidade de fenômenos e permitiu que a ciência espírita desse largo passo, fazendo-a enveredar por nova senda, tirando-lhe todo o cunho de maravilhosa. Dos próprios Espíritos, porquanto notai bem que foram eles que nos ensinaram o caminho, tivemos a explicação da ação do Espírito sobre a matéria, do movimento dos corpos inertes, dos ruídos e das aparições” (O livro dos médiuns, item 146). A explicação da causa dos fenômenos das mesas girantes é outro exemplo da fertilidade que Kardec atribuiu à teoria espírita: “as mesas girantes representarão sempre o ponto de partida da Doutrina Espírita e, por essa razão, algumas explicações lhes devemos, tanto mais que, mostrando os fenômenos na sua maior simplicidade, o estudo das causas que os produzem ficará facilitado e, uma vez firmada, a teoria nos fornecerá a chave para a decifração dos efeitos mais complexos" (O livro dos médiuns, item 60).

Simplicidade. A simplicidade também foi um valor importante para Kardec, segundo o qual a explicação mais simples para um fato tende a ser a verdadeira. Isso se verifica em vários trechos de seus escritos, entre os quais destacamos o do item 108 de O livro dos médiuns, relativo às causas das manifestações físicas espontâneas. Ele se referia à confusão com os casos de manchas ou pontos opacos do próprio humor aquoso, que se movem e causam a impressão de que se está enxergando um fenômeno externo: “Enquanto não se provar que uma imagem tem movimento próprio, espontâneo e inteligente, ninguém poderá enxergar no fato de que tratamos mais do que um simples fenômeno ótico ou fisiológico”. Significa então que, se a explicação mais simples são as manchas, esta é provavelmente a tese correta e não precisamos recorrer à intervenção espiritual.

A independência do espírito em relação à matéria constituiu-se na explicação mais simples para a ocorrência de muitos fenômenos, como a clarividência e a segunda vista. Até hoje, elas são mais simples que certas tentativas da ciência materialista de explicar os mesmos fenômenos. Também as recordações de vidas passadas, com ampla comprovação de identidade na vida anterior em muitos casos, têm na reencarnação sua explicação mais simples.

Abrangência e exatidão. Quanto à abrangência e exatidão, ambas aparecem nas palavras do próprio Codificador, transcritas na biografia de Henri Sausse: “Apliquei a essa nova ciência, como até então o tinha feito, o método da experimentação; nunca formulei teorias preconcebidas; observava atentamente, comparava, deduzia as conseqüências; dos efeitos procurava remontar às causas pela dedução, pelo encadeamento lógico dos fatos, não admitindo como válida uma explicação, senão quando ela podia resolver todas as dificuldades da questão” (SAUSSE, [s.d.], p.8).

Também o item 32 de O livro dos médiuns se refere à sua capacidade de abranger “tanto o homem físico quanto o homem moral”. Referindo-se à vantagem dessa abrangência perante a ciência médica da época, no item XIX da Introdução a O Evangelho segundo o Espiritismo, lê-se que “Se os médicos são malsucedidos, tratando da maior parte das moléstias, é que tratam do corpo, sem tratarem da alma. Ora, não se achando o todo em bom estado, impossível é que uma parte dele passe bem. O Espiritismo fornece a chave das relações existentes entre a alma e o corpo e prova que um reage incessantemente sobre o outro. Abre, assim, nova senda para a Ciência. Com o lhe mostrar a verdadeira causa de certas afecções, faculta-lhe os meios de as combater. Quando a Ciência levar em conta a ação do elemento espiritual na economia, menos frequentes serão os seus maus êxitos.”

Onde a abrangência da teoria espírita perante os demais sistemas, na visão de Kardec, mostra-se mais clara é no capítulo IV da Primeira Parte de O livro dos médiuns (“Dos sistemas”). Ele trata das teorias que surgiram para explicar os fenômenos mediúnicos e das limitações que carregavam, das quais não padecia a teoria espírita.

Consistência. A consistência perante si mesma é uma constante na teoria espírita, mas o mesmo não se pode dizer dela com respeito às demais teorias que versam sobre os mesmos fatos. À época, surgiram muitos sistemas concorrentes, e hoje não é diferente. Contudo, como dissemos, entendemos que a consistência externa pode ser um critério contestável.

Conforme observamos, Allan Kardec compreendia a importância dos valores epistêmicos e da falseabilidade como atributos de uma boa teoria. Isso nos dá uma dimensão da sua qualidade enquanto pesquisador da Ciência Espírita, mesmo numa época em que eles nem eram cogitados e que a filosofia da ciência ainda estava nascendo.

A teoria espírita, como vimos, traz em seu bojo esses atributos. Como concluímos das observações de Lacey (1997), eles constituíam os pontos significativos para o Codificador, eles nos revelam sua racionalidade, seu modo de pensar que se manifestam no seu próprio viver e seu estilo de pensar e fazer ciência, o qual está de acordo com os melhores critérios racionais apontados pelos filósofos da ciência contemporâneos.

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Referências:

BARRA, E.S.O. Valores epistêmicos no naturalismo normativo de Philip Kitcher. Principia. V. 4, Nº 1. (2000), p. 1-26.

KARDEC, A. O Evangelho segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

______. O livro dos médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 1996.

______. Obras póstumas. (PDF) Rio de Janeiro: FEB, 2005.

KUHN, T.S. A estrutura das revoluções científicas. São Paulo: Perspectiva, 2000.

______. Objetividade, juízo de valor e escolha teórica. In: A tensão essencial. Lisboa: Edições 70, 1989.

LACEY, H. Interpretação e teoria nas ciências naturais e nas ciências humanas: comentários a respeito de Kuhn e Taylor. Trans/Form/Ação. Nº20 (1997). p.87-106.

LAKATOS, I. O falseamento e a metodologia dos programas de pesquisa científica. In: LAKATOS, I; MUSGRAVE, A. A crítica e o desenvolvimento do conhecimento. São Paulo: Cultrix/Ed.USP, 1979.

POPPER, Karl R. Conjecturas e Refutações (O Progresso do Conhecimento Científico). In: Conjecturas e Refutações. Brasília: UnB, 1980.

SAUSSE, Henri. Biografia de Allan Kardec. (PDF)

THE SCIENTIFIC conception of the world: the Vienna Circle. (Tradução para o inglês em Depressed Metabolism). 1929.

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Imagem: Foto de um experimento com a médium Eusápia Paladino, no início do século XX.