Como a vida social desperta atitudes melhores... ou
não!
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Telhados de BedZed, vila sustentável na Inglaterra. |
Por Rita Foelker
A vida social tem
uma razão de ser, assim como os relacionamentos humanos. Entre chefe e
subordinado, pais e filhos, professor e aluno, entre irmãos, colegas,
familiares, vizinhos, amigos, quer seja em duplas, trios ou grupos,
encontraremos um propósito que atende à evolução de cada espírito neles
envolvido.
Carl Gustav Jung (1875-1961)
escreveu em A prática da psicoterapia
(Vozes) que “o encontro de duas personalidades assemelha-se ao contato de duas
substâncias químicas: se alguma reação ocorre, ambos sofrem uma transformação”.
As reações “químicas”
geradas são únicas. Tão únicas que não é difícil perceber que somos diferentes
com pessoas diferentes. Algumas parecem despertar nosso melhor; outras acessam
nosso pior. Perto de algumas, sentimo-nos afetivos, criativos, expansivos.
Outras nos fazem sentir pouco inteligentes, retraídos e inadequados.
As relações humanas
dependem do que cada participante conduz para dentro delas, proveniente de sua
psicologia, ética, moral, sentimento, vontade, intelecto, intenções, interesses,
vivências, expectativas, cultura, valores. Elas podem ser saudáveis ou doentias,
agradáveis ou desagradáveis, sinceras ou enganosas, satisfatórias ou
frustrantes, numa vasta gama de variações. Por isso é tão importante conviver, para
aprendermos com essas diferenças.
O livro dos
espíritos não deixa dúvida, na questão 766: “Deus fez o homem para viver em sociedade. Deus
deu-lhe a palavra e todas as demais faculdades necessárias ao relacionamento”. No
entanto, o que conduzimos para cada espaço que adentramos? Qual consideramos
ser a nossa parcela de contribuição para o meio onde nos encontramos? E o que assimilamos
nesse convívio?
De ecovilas a casais
Quando uma
comunidade se forma, soma-se mais que as características pessoais de cada
integrante. Formam-se vínculos, baseados em normas de conduta, expectativas,
objetivos. Isso é nítido ao se visitar diferentes culturas ou comunidades
alternativas. Um exemplo interessante são as vilas sustentáveis, como BedZED
(sigla que corresponde a Beddington Zero
Energy Development, ou “Desenvolvimento com Energia Zero em Beddington”),
em Hackbridge, e Container City II, em Trinity Buoy Wharf, ambos em Londres,
Inglaterra. As pessoas escolhem morar nesses lugares porque desejam viver de um
modo mais sustentável, e isso implica maneiras específicas de lidar com consumo,
água, resíduos e energia. Então, se você vai morar lá, algumas de suas ações e
hábitos certamente mudarão, ou você se sentirá inadaptado e terá de sair.
O site de
Container City II contém um testemunho de uma moradora: “Nós amamos fazer parte
de uma comunidade tão criativa – os clientes adoram a construção e achamos um
lugar inspirador para trabalhar”.
Juntar pessoas
sempre tem consequências para ambos e no meio onde vivem.
Quando um casal se
forma, duas pessoas criam mais que a soma de suas características, pura e
simples. Existe uma química nos relacionamentos entre casais, uma química única
que resulta das interações de ambos. E não se trata do sentido comum desse
termo, mais usado para referir-se à atração sexual.
A convivência e o
compartilhamento de situações diversas no cotidiano, onde quer que se encontrem,
modifica as pessoas.
Mas o Cristo já
havia mencionado esta química dos relacionamentos, ao nos deixar a parábola do
fermento. “Não sabeis que um pouco de fermento leveda a massa toda?” escreve Paulo
em Coríntios I. Comentando esta passagem
do Evangelho, Emmanuel em Fonte viva
nos oferece definições oportunas. “O fermento é uma substância que excita
outras substâncias, e nossa vida é sempre um fermento espiritual com que
influenciamos as existências alheias.” Há referência do autor espiritual a três
níveis dessa nossa influência:
Falas. “Nossas palavras determinam palavras em
quem nos ouve, e, toda vez que não formos sinceros, é provável que o
interlocutor seja igualmente desleal.”
Hábitos. “Nossos modos e costumes geram modos e
costumes da mesma natureza, em torno de nossos passos...”
Atos. “Nossas atitudes e atos criam atitudes e
atos do mesmo teor, em quantos nos rodeiam, porquanto aquilo que fazemos atinge
o domínio da observação alheia, interferindo no centro de elaboração das forças
mentais de nossos semelhantes.”
É natural que
nossas falas, nossos hábitos e atos surjam da influência que recolhemos no meio
onde convivemos, assim como influenciam outras pessoas. Talvez só falte prestar um tanto mais de
atenção ao que expressamos e, também, ao que trazemos do meio compartilhado para
nossa vivência diária.
Para saber mais:
- BedZED – Liderando o caminho no desenho de
Eco bairros. Site do Programa Cidades Sustentáveis. http://migre.me/fXDoI
- Container City II. Site da Container
City (em inglês). http://migre.me/fXCcX
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* Texto publicado na revista Leitura Espírita, Edição 16.