Hopetoun Falls, Austrália |
Por
Rita Foelker
“Não
creio no Deus que recompensa o bem e castiga o mal. Meu Deus cria leis que se
encarregam disso. Seu Universo não é regido por ideias em que se deseja acreditar,
mas por leis imutáveis” (EINSTEIN, apud
JAMMER, 2011, p. 97). Estas linhas, que bem poderiam ter sido escritas por um
espírita conhecedor dos princípios do Espiritismo, são de autoria de Albert
Einstein (1879-1955) e constam numa entrevista concedida em 1954.
De
fato, Einstein era um admirador assumido da filosofia de Espinosa (1632-1677),
conhecido pelo seu pensamento panteísta. O panteísmo é uma doutrina que afirma
ser Deus, o conjunto de tudo o que existe. Kardec indagou os Espíritos sobre o
panteísmo, recebendo deles, como resposta, a noção de Deus sendo um ente
distinto, o que nega a concepção panteísta. Segundo o Espiritismo, Deus é causa
e, não, efeito, não podendo com este se confundir.
Também não é um consenso que Einstein acreditasse nessa doutrina.
Feita
esta ressalva, recordamos de que o panteísmo não foi a principal razão das
críticas que se levantaram contra a visão de Einstein sobre Deus. As muitas
controvérsias geradas pelo seu artigo “Ciência e religião” (Science and Religion), publicado em
1940, que levaram a repetidos esclarecimentos de sua parte, respostas a cartas
e declarações indignadas de religiosos diversos provieram, especialmente, da sua
compreensão de um Deus impessoal, que levaria a uma visão de religiosidade
distinta daquela predominante na religião institucionalizada. Esta
religiosidade se traduzia como a “emoção do mistério”, que se encontra na
verdadeira origem da arte e da ciência, gerando reverência e humildade.
Sua
opinião era refletida e não se modificou com o passar dos anos. Em dezembro de
1952, ele receberia de uma senhora de São Francisco, Califórnia, um pergunta
muito direta: “qual é a sua crença sobre Deus?” A resposta do cientista foi: “a
ideia de um Deus pessoal me é completamente estranha e até me parece ingênua”
(JAMMER, 2011, p.96).
Deus pessoal
Einstein
(1966, apud JAMMER, 2011, p.62)
afirmaria em seu ensaio “Aquilo em que acredito”: “Não consigo conceber um Deus
que premie e castigue suas criaturas, ou que tenha uma vontade semelhante à que
experimentamos em nós.” Ou
seja, num Deus pessoal.
Alguns
de seus críticos confundiram sua negação do Deus pessoal com uma negação da
própria existência de Deus. Outros, porém, manifestaram suas razões para
discordância, como foi o caso dos comentários escritos por sacerdotes de
diversas religiões para o jornal Hudson
Dispatch, de Nova York. O padre Joseph Antliff afirmaria que não leu a
matéria, mas que “a concepção que qualquer Deus que não seja pessoal contraria
os ensinamentos da igreja católica” (JAMMER, 2011, p.79). O rabino Cohen diria
que Einstein “coloca o Ser Supremo tão remotamente distante da esfera da
compreensão humana, que torna desprezível Sua influência” (id., ibid.).
O
que Einstein propõe com seu Deus impessoal, contudo, pode ser entendido a
partir da concepção espírita, segundo a qual Deus é imutável, sua inteligência
projetou e sua vontade originou este Universo que funciona perfeitamente desde
a sua origem, sendo que ele não age intempestivamente, castigando ou premiando,
ofendendo-se ou perdoando, mas apenas expressa sua bondade e justiça infinitas
em todos os níveis observáveis e não observáveis de sua Criação, pela perfeição
de suas leis.
Os
termos que os Espíritos da Codificação utilizam para definir Deus, na primeira
questão de O Livro dos Espíritos não
o identificam como uma pessoa, mas como “inteligência suprema” e como “causa
primeira”, cuja grandeza se reflete nas maiores realizações e nos mais ínfimos
detalhes do Cosmos.
Entre
as análises feitas das ideias de Einstein no polêmico artigo, destacou-se a que
Paul Tillich efetuou em “A ideia de um Deus pessoal” (The idea of a personal God), pela sua profundidade e conclusão plausível.
Tillich considera que o mais forte argumento de Einstein em favor de sua
posição é a de que um Deus pessoal é incompatível com a interpretação
científica da Natureza. Segundo Tillich, “o conceito de um “Deus Pessoal”, que
interfere nos eventos naturais, ou que é “uma causa independente dos eventos
naturais” faz de Deus um objeto natural ao lado de outros, um objeto entre os
objetos, um ser entre os seres, talvez o mais elevado, mas de qualquer forma um
ser. Isso, sim, é a destruição, não só do sistema físico, mas, sobretudo, a
destruição de qualquer ideia significativa de Deus” (TILLICH, 2012). No que se
refere à interpretação científica da Natureza, outros físicos contemporâneos
escreveram sobre sua experiência com o mistério por detrás da ordem cósmica.
Max Planck, a propósito, encontra o que ele chamou de “ordem cósmica”, enquanto
Werner Heisenberg denominou “ordem central”, e David Bohm, “ordem implicada”.
Tillich
então conclui que a ideia de um “Deus pessoal” não é um algo em si, mas um
símbolo que remete a uma realidade que transcende a nossa capacidade de pensar
e conceituar. Fala-se de um Deus pessoal, como se ele fosse “alguém”, pela
incapacidade de se compreender aquilo que Deus verdadeiramente é. Mas esse Deus
pessoal não existe, ele é só um “jeito de falar e pensar” Deus.
Referências
EINSTEIN,
Albert. Science and religion.
JAMMER,
Max. Einstein e a religião: física e
teologia. Rio de Janeiro: Contraponto, 2011.
TILLICH,
Paul. The idea of a personal God.
Imagem: Wikipedia
me parece que o cientista percebeu aquilo que kardec sabiamente disse:a verdade é só uma ,é impossível uma verdade contrariar a outra.neste ponto religião e ciência se fundem.
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