Dizem que os cinco sentidos nos
colocam em contato com a realidade. Será?...
Como sabemos o que é a verdade? A
filosofia se debruça sobre essa questão há mais de mil anos e, ultimamente, a
verdade se tornou uma questão epistemológica secundária. As teorias
científicas, por exemplo, já não buscam expressar a “verdadeira verdade” sobre
as coisas que existem, mas apenas um ponto de vista aceitável perante os
critérios que adota para sua confirmação, um ponto de vista que pode
modificar-se ou ser superado com o passar do tempo.
Segundo visões atuais,
preferencialmente as pluralistas, as céticas e as materialistas, teorias não
têm como objetivo chegar à verdade, até porque verdade é um conceito além da
possibilidade de investigação científica. Pois então: minha curiosidade foi
estimulada quando soube do lançamento da edição brasileira de A magia da realidade: como sabemos o que é
verdade, o livro infanto-juvenil de Richard Dawkins e, ao abri-lo, descubro
como subtítulo a expressão que se refere exatamente a como conhecemos a verdade.
Quis entender qual é a verdade de Dawkins, até porque a ciência hoje em dia
evita as inquirições metafísicas, sobre a verdade acerca da origem, a natureza
e o propósito das coisas. Mas algumas perguntas que intitulam os capítulos são
realmente consideradas terreno metafísico. É o caso de “quando e como tudo
começou?” e “por que coisas ruins acontecem?”, mostrando que o desejo de
respondê-las continua vivo em muitas pessoas e incita a curiosidade dos jovens
a quem o livro se destina.
O
que é real?
A marca do cético é duvidar de
tudo, até do que parece óbvio. Richard Dawkins não é um cético radical e está
preparado para aceitar que certas coisas são, inquestionavelmente, reais –
aquelas que percebemos por meio dos cinco sentidos físicos (tato, olfato,
visão, audição e paladar). Entre os exemplos de coisas reais, contudo, ele cita
um camelo, cuja existência alguém poderia contestar. “Não sei se um camelo
existe, nunca vi pessoalmente, cheirei ou toquei um camelo.” Ainda mais hoje,
quando os softwares produzem
aparências muito convincentes de realidade...
Ao que parece, contudo, para Dawkins,
quando entendemos o processo pelo qual uma informação nos chega, é legítimo
conceder-lhe credibilidade. Esse é, segundo o autor, o caso dos fósseis, pois,
como sabemos o processo e podemos compreender como eles se formam, podemos
portanto acreditar que os fósseis são reais, e também assumir que eles
significam que os dinossauros existiram no passado da Terra.
As ondas de rádio e TV, que não
são acessíveis aos cinco sentidos, também são reais, porque elas emitem sinais
visíveis – se transformam em som e imagem. Parece então que, além da percepção
direta, a compreensão dos meios e percepção de sinais indicadores fazem parte
dos critérios do autor para se atribuir realidade a um evento ou objeto. No
entanto, quando se trata de “falar com os mortos”, mesmo que estes deixem
provas materiais de sua ação e registros que permitam reconhecer a identidade
de seus agentes, Richard Dawkins prefere atribuir esses fenômenos a uma de duas
causas – ou charlatanismo, ou boa-fé. Ou a pessoa está dissimulando o fato de
comunicar-se com os mortos deliberadamente, ou acredita que é médium e tem
capacidade de comunicar-se com eles, mas está iludida.
Como
funciona a mediunidade
A mediunidade, contudo, é um
processo que muitas vezes deixa registros e possibilidades de confirmação
inquestionáveis. Os muitos relatos das psicografias de Chico Xavier e de outros
médiuns não partiram de espíritas ansiosos por convencer incrédulos, mas
mencionam pessoas que, contrariamente às suas expectativas, tiveram de
reconhecer a legitimidade do fenômeno. Um desses casos aparece no filme Chico Xavier (2010), que apresenta o
processo de autoconvencimento do diretor de TV interpretado por Toni Ramos,
totalmente cético em relação às comunicações dos espíritos.
O
livro dos médiuns
de Kardec é um completo manual científico para orientar, não apenas a prática
mediúnica, mas a avaliação dos seus resultados e a identificação de fraudes e
mistificações. Para Dawkins, a fraude e o autoengano seriam as únicas
explicações possíveis para as manifestações mediúnicas, mas fica-se então a
descoberto para compreender os numerosos casos em que estas não ocorreram.
Contudo, o autor pode talvez
mudar de ideia, já que ele mesmo afirma que “a realidade não consiste apenas
nas coisas que já conhecemos. Ela inclui o que existe mas ainda ignoramos — e
que só viremos a conhecer no futuro, talvez quando tivermos construído
instrumentos melhores para auxiliar nossos cinco sentidos”. A abertura mental
para novas possibilidades de conhecer, não só com instrumentos que ampliam
nossos sentidos, mas com outros sentidos, é o ponto de partida para a
compreensão da realidade do fenômeno mediúnico.
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* Esta matéria foi publicada na seção "Leitura da Mídia", do novo jornal Leitura Espírita, Edição 01, do qual sou presentemente responsável pela coordenação editorial.
Rita foelker vc disse no seu programa de radio que o Richard Dawkins,não é inteiramente cético,pois ele acredita que os dinossauros existiram,mas essa não é uma idéia inteiramente científica?
ResponderExcluirEu gostaria de saber o que pensa um ateu após seu desencarne?
ResponderExcluirUm ateu não pensa em desencarne, porque não acredita que exista espírito, mas todo nosso conhecimento sobre o mundo provém do nosso cérebro. Portanto quando nosso cérebro morre, tudo acaba. Pessoas que têm problemas no nascimento ou genético, como a falta de oxigênio no cérebro e sindromes completas,sofrem retardo mental, mostrando que a pessoa é o que ela pensa que é e pensamos com o nosso cérebro.
ExcluirEm nada, não há comprovação que haja nada após a vida. Morreu acabou.
ResponderExcluirNinguém veio do além revelar outra dimensão da realidade...
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirSe acontecer a sobrevivência da consciência após a morte, temos que supor que também aconteceria com as demais espécies..... afinal o que teríamos de especial em relação ao chimpanzé, por exemplo?
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