domingo, 6 de julho de 2014

Divagações entre o Belo e a Verdade III: Ciência e Religião

"O Universo não é regido por ideias em que se deseja acreditar, mas por leis imutáveis"



Por Rita Foelker

No parágrafo anterior introduzimos a religião no caldo da fervura e, consequentemente, acrescentamos a ele Deus ou deuses que são os possíveis responsáveis pela inteligibilidade da Natureza e do Universo.

Muitas religiões têm monopolizado a ideia da divindade e o caminho para chegar a Deus. Mas existe um Deus fora da religião. E a razão é óbvia: se Deus existe, ele existe antes e além das religiões, que são concepções humanas e frágeis. Pois embora muitas se declarem reveladas divinamente, ainda é trabalho humano entendê-las, escrevê-las, pregá-las e praticá-las segundo seu entendimento – ou seus interesses.

Muitos filósofos tentaram compreender e pensar Deus. Leibniz e Espinosa foram alguns. Mas isso não cabe na ciência. É filosofia, é metafísica, que muitos cientistas rejeitam. A ciência só trabalha com entidades admitidas como existentes e não questiona sobre sua causa.

Como escreveu Steven Weinberg, “a única forma de agir possível para uma ciência é supor que não existe intervenção divina e ver até onde se pode ir assim”. A ciência então cresce como um conhecimento variado e discordante, embora fundamentado, e não prega (ou ao menos não deveria pregar) uma verdade única. E também não nos dá escolha evidente entre posições científicas distintas acerca de um mesmo objeto de estudo.

O famoso “princípio da incerteza”, por exemplo. Se concordarmos plenamente com Heisenberg, teremos de discordar de Einstein. Se preferirmos Einstein, começaremos e encontrar falhas no pensamento de Heisenberg. Mas ambas as afirmações são científicas e apoiadas em evidências. Isso muito me agrada em ciência... a diversidade de teorias.

A ciência, mesmo divergente (ou graças à divergência), tem nos levado a lugares e desenvolvimentos espetaculares. Crer na ciência é mais que uma questão de fé, mas de estudo da história e observação.

Na ciência em si mesma, contudo, nada pode garantir a ação de Deus ou do acaso. Enquanto alguns cientistas notáveis assumiram a fé e a intuição espiritual, outros aderiram ao ceticismo e ao pragmatismo em suas vidas pessoais...

Isaac Newton, que fundou a Física Clássica, afirmava que “a gravidade explica os movimentos dos planetas, mas não pode explicar quem colocou os planetas em movimento. Deus governa todas as coisas e sabe tudo que é ou que pode ser feito.” Albert Einstein, célebre autor da Teoria da Relatividade, dizia crer no Deus de Espinosa e, sobre a religião, ele declarou: “Não creio no Deus que recompensa o bem e castiga o mal. Meu Deus cria leis que se encarregam disso. Seu Universo não é regido por ideias em que se deseja acreditar, mas por leis imutáveis.”

Quer dizer que para ser crente ou ateu não se pode invocar uma justificativa científica. E que você pode ser um cientista genial e respeitável que considera a inteligibilidade do Universo como manifestação da inteligência divina e Deus como o Incrível Geômetra, tanto quanto o outro cientista genial pode defender a coincidência e o acaso. Isso não faz de ninguém um “panaca místico” e nem um “ateu bobão”. (Mas não para por aí.)

Nenhum comentário:

Postar um comentário