segunda-feira, 7 de julho de 2014

Divagações entre o Belo e a Verdade IV: Verdade e Crença

Todo conhecimento humano é parcial

Por Rita Foelker


Então, voltamos ao aspecto da crença. Da crença que gera escolhas. Voltamos ao ponto em que há várias possíveis escolhas e que elas estão relacionadas ao que acreditamos. Voltamos a nós mesmos.

Quais nossas opções para crer? A religião se tornou frequentemente tola e irracional, contrariou a ciência. A ciência também desprezou e até atacou frequentemente as visões religiosas. Mas isso não significa que não se possa pensar racionalmente a vida espiritual, o invisível. Kant propôs um jeito de fazer isso...

Algo a se considerar como ponto de partida é que todo conhecimento humano é parcial. Quanto mais ele aumenta, mais descobrimos a imensidade do que não sabemos.
A ciência tem suas limitações. Sua tentativa de explicar a mente apenas como fruto da atividade cerebral, por exemplo, é boa só até a página 2... no máximo, até a 3. As teses materialistas a respeito são reducionistas, não dão conta do que realmente acontece nos processos mentais e, muito menos, da compreensão acerca do que é a mente e a consciência.

Dentro dessa noção de conhecimentos limitados, podemos crer na ciência, entendendo como ela funciona, e também podemos ter uma compreensão espiritual das coisas, sem que elas se choquem ou contradigam.

O erro do espiritualismo ingênuo e do misticismo é querer enxergar implicações científicas de suas crenças onde elas não existem, o que cria relações falsas entre ciência e espiritualidade.

O erro está nas associações indevidas e apressadas que muitos cientistas como Amit Goswami têm feito. Filmes como Quem Somos Nós (2004) e O Segredo (2006) vêm dando a impressão de falar de ciência quando apenas fornecem especulações e bons efeitos visuais em cima de pesquisas que nada têm a dizer sobre atitudes e melhoria de vida, embora apontem nessa direção.

Assim também, a Geometria Fractal abre certa possibilidade de pensar numa Teoria de Tudo, ou, pelo menos, de imaginá-la, mas não serve para confirmar ou provar nada sobre ela. Ela se aproveita do fato de que os cientistas tendem a preferir teorias mais simples e mais bonitas, são influenciados pelos chamados “valores epistêmicos”, embora o mais bonito nem sempre traduza uma verdade científica, sendo até superado pelo mais estranho e complicado.

Não cabe a uma eventual futura Teoria de Tudo, que é científica, permitir ou proibir que se creia no Nada ou em uma Divindade, na beleza ou na simplicidade. O que ela nos dá é perspectiva e, não, o alvo sonhado. Anyway, a ciência ainda tem muito pouco a falar sobre beleza e sobre o efeito dela sobre nós. (Quase...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário