Por Rita Foelker
A beleza e a verdade existem? Possivelmente. Creio pessoalmente que sim, de algum modo transcendente.
Mas elas são também conceitos que inventamos e nomeamos. E desejamos combiná-las de certa maneira numa concepção de mundo ou teoria, porque nos apetece ao intelecto e ao sentido estético.
Estamos presentes nessa operação, criamos isso. Essa relação. Quer ela esteja no pensamento que gerou o Universo ou somente na nossa cabeça.
Por isso, pouco se pode caminhar nesse assunto sem a consideração de nós mesmos. Temos quatro forças, temos fractais, temos geometria, ciência, filosofia, religião e temos nós próprios. O elemento que falta, a “quinta”, ou “sexta”, ou “n-ésima” força, tão desconhecida quanto nós próprios nos desconhecemos.
Creio que precisamos abrir mão de alguns pressupostos sobre a realidade usados em nossa relação cotidiana com ela. O senso comum, de onde você e eu nos colocamos, ainda vê o Universo predominantemente como o “lá fora”, excluindo o Ser, que é dentro dele uma parte integrante e um agente fundamental.
Tal qual na física clássica, ainda queremos ver tudo como processos mecânicos de causas e efeitos determinados. Não dá mais pra fazer isso, com tudo o que já sabemos depois do surgimento da atômica e da quântica.
A física clássica se baseia numa noção de divisibilidade irrestrita, na separação e individualização dos objetos de estudo, mas há fenômenos que só podem ser estudados globalmente (em relação com tudo o mais). A ideia de uma causa e um efeito observados “de fora” não funciona para as considerações acerca da dinâmica do Universo inteiro.
Nesse contexto, explicações científicas que nos excluam também não podem ir longe, o que certamente complica o trabalho dos cientistas pra tentar equacionar as coisas e enfim comemorar uma Teoria de Tudo.
Nós, os seres ou espíritos, estamos aqui, somos uma variável obrigatória. Somos criaturas que transformam a realidade e o mundo concreto é a prova mais evidente disso, sem falar no emocional, na saúde.
Nossas experiências práticas e emocionais dependem do desenvolvimento de nossa inteligência, sensibilidade e ética, ou da falta dele. Essas diferenças criam variações e até distorções, mas não destroem o Cosmos, o que nos permite pensar que não são defeitos do sistema, porém, variações/distorções previstas e incorporadas à sua programação.
E isso tem uma beleza, apesar de frequentemente nos desagradar os olhos ou o sentido ético.
Afinal, por que é que as explicações sobre como tudo funciona teriam de ser básicas ou simples? E por que elas estariam ao alcance de nossa capacidade intelectual presente? Nós, que também somos seres complexos e também não nos entendemos, como microcosmos. Que, frequentemente, cometemos o mesmo equívoco da separabilidade, pensando em nós como seres separados do todo da vida e da consciência.
Com tudo o que o Universo precisa conter para ser como é, ele é muitíssimo mais intrincado do que linhas de um programa que alguém digita em um notebook, numa madrugada de insônia, e que, executando-o, podemos observar numa tela um desdobramento de formas coloridas. Ele é tudo o que aí está, estamos nele sem poder evitar, e ele entra por todos os canais da sensibilidade, nos agita e nos transforma enquanto flui vertiginosamente. (Chega!)
Nenhum comentário:
Postar um comentário